terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A confusão que vai naquelas cabecinhas (*)

Aqui há dias, num famoso blog de sportinguistas que tem como missão criticar a actual direcção do SCP, vi o blogueiro de serviço transcrever, com pompa e circunstância, o “eloquente” comentário de um dos seus utilizadores.

Dizia o comentário, escrito por um sportinguista de mais de sessenta anos, que já tinha conhecido várias direcções, umas piores, outras melhores, mas que todas haviam estado ao serviço do clube com espírito de missão. É e continua a ser sportinguista, mas confessa que este presidente lhe tirou o gosto de ver futebol, uma estranha sensação que não consegue explicar. O blogueiro completa o ramalhete dizendo que sentiu o mesmo ao ver o derby (sim, o de domingo passado).

Ao contrário do eloquente comentador, não tenho sessenta mas quase quarenta anos de vida, dos quais mais de trinta foram a apoiar o Sporting, como sócio e assíduo adepto no estádio. Atravessei a famosa seca dos 18 anos, antes de atravessar a actual. Vi o meu ídolo de infância – Futre – ir para o Fruta. Vi uma época nossa (1986/87) começar com um plantel de 13 jogadores. Vi Jorge Gonçalves a afundar o nosso clube. Vi Bobby Robson, que nos treinava em 1993 quando estávamos em primeiro lugar, ser despedido. Vi como terminou a guerra de 1993 entre Sporting e o Carnide, e quanto tivemos de pagar ao nosso rival pela brincadeira. Lembro-me dos treinadores de futuro que contratámos, como Waseige, Materazzi, Jozic, Cantatore, Carlos Manuel, etc., onde apenas o terceiro conseguiu acabar uma época. Neste século vi… bem, todos sabem o que aconteceu na época de 2012/13. E ai sim, confesso-vos, a minha falha de sportinguista: não foi uma sensação estranha, foi mesmo vergonha. Nem tive coragem de fazer sócia do clube a minha filha recém-nascida. Entretanto, logo em maio desse ano tudo mudou… e a minha filha já é sócia.

Já não é do meu tempo, mas sê-lo-á do eloquente comentador de sessenta anos, a história do nosso clube nos anos 60 e 70 do século passado. Espanta-me que não te tenha indignado, envergonhado ou sentido estranho, quando o nosso clube se promiscuia com o poder político então vigente, humilhando algumas das nossas figuras históricas (vide Carlos Gomes e Cândido de Oliveira).

São muitas as histórias do nosso clube centenário, umas mais felizes, outras nem por isso. Uma coisa nos une, enquanto sportinguistas: a paixão pelo clube e pelo futebol. A rivalidade com os nossos “ódios de estimação”, o formigueiro na barriga antes de cada jogo, o golo do Miguel Garcia gritado pelo falecido Perestrelo… quando nesses momentos de explosão de alegria, o melhor que temos para dizer é que não exuberamos porque não gostamos do presidente… A sério? Um prato de croquetes vale mais do que espetar três batatas ao benfica na Luz? O que interessa é o “respeitinho ser muito bonito” e depois andamos a lutar com o Braga e o Belenenses pelo 3.º lugar ou ponderar a falência da SAD? Paixão pelo clube é sinónimo de “lampionização” do Sporting? 40 anos após o 25 de Abril ainda há quem tenha prurido pelo presidente dizer que “O Sporting é dos sportinguistas” e não de uma elite? É este o Sporting que queremos?

Tenho dito.

(*) - Texto Publicado na Tasca do Cherba, a 04-11-2015

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