domingo, 5 de março de 2017

Chapada de Luva Branca

Havia algo que não estava bem.

Naquele grande barómetro que são os cafés de Portugal, não se ouvia um único sportinguista que dissesse "Vou apoiar o Madeira" ou "Com o Rodrigues é que vai ser". Pelo contrário, só se ouvia gabar a forma como o extrovertido Bruno levantou a auto-estima dos sportinguistas, salvou o clube da bancarrota, construiu o pavilhão e meteu a equipa a lutar pelo título. Também se dizia que "Ah, mas ele é desbocado, fala muito, devia estar mais calado!". Mas nunca ouvi ninguém dizer que "Estou farto do Bruno, vou apoiar o outro candidato!".
No trabalho, aqueles sportinguistas com quem bebemos café à segunda-feira de manhã, praguejavam contra a actual época miserável, contra as arbitragens, contra a casmurrice do Jesus. Achavam que "O Bruno por vezes se excedia mas, caramba!, o homem meteu o Sporting outra vez na luta!". Hoje dá gosto ir a Alvalade cantar o "Mundo sabe que!". "E o pavilhão? Dassse!". "E a venda do João Mário e do Slimani?".
Aquele nosso grupo de amigos da escola, de infância, aqueles sportinguistas com quem falamos de futebol desde os anos 70 ou 80, todos lembravam o regresso das modalidades, a luta no ano passado. as noites frias de Alvalade há 4 ou 5 anos e o calor humano que agora por lá se sente. "Bolas, é obra!". Nem aquele nosso amigo sportinguista resmungão, para quem "São todos coxos!" ou "Não jogam o caracol", "Querem é ganhá-lo, correr tá quieto", alguma vez disse "Fdx lá ao Azevedo de Carvalho, vou dar agora a oportunidade a outro!".
Nos jornais, os escribas de serviço vendiam crónicas e peças jornalísticas com mil e uma teorias sobre a divisão que existe no Sporting, a rotura entre os sócios, a atitude do presidente Bruno que só separa, não unifica. Nos espaços de opinião pululavam sportinguistas que repetiam a mesma lenga-lenga, de que estamos num clube dividido, crispado e que após estas eleições ainda mais divididos e crispados ficaríamos. 
Após o debate, onde muitos viram cobardia, fraqueza, embaraço de Bruno de Carvalho, eu vi postura e sentido de estado, com muito pragmatismo à mistura. Onde os jornais, adeptos adversários e alguns croquetes, viram PMR entalar o Bruno, ganhar pontos ou arrancar para a vitória, eu vi vacuidade, cretinice e falta de vergonha na cara.
Para mim era óbvio quem iria ganhar as eleições, e cheguei a ponderar nem perder o meu precioso tempo a ir votar ao estádio. Todos os sportinguistas a quem confidenciei este desabafo avisavam-me dos perigos disso: "Olha, como foi na América, pensavam o mesmo e ganhou o Trump", "Olha os ingleses, ninguém dava nada pelo Brexit e lá vão eles agora de patins". 
Nestes últimos dias a sombra adensava-se. O nosso presidente era um Trump, o nosso lucro era martelado, as eleições iam ser uma tragédia, no dia 5 de março ia começar a guerra civil...

Chegamos ao dia 4 de Março.

Estacionei o carro por debaixo do Alvaláxia, eram quase 11 horas. Vim de manhã, convencido que àquela hora ainda havia pouca gente. Passei pela porta do Directivo e comecei a ver cada vez mais gente, até parar perto da porta 4, onde começava a fila. Olhava para a face dos outros sócios que ali esperavam como eu ou que por ali passavam e reparei em algo extraordinário. Onde contava ver rostos apreensivos, ares preocupados, silêncio, temor, pois o momento do Sporting era grave, deparei-me com olhares de esperança, caras alegres, sorrisos e aquele brilho dos olhos de quem se sente motivado e confiante para um embate. Apesar da espera, que ainda passou os 30 minutos, não se via ali ninguém zangado, aborrecido, preocupado. Estava uma atmosfera estranhamente tranquila, amistosa até. Todos se riam do tamanho da fila, todos falavam do Bruno, não ouvi ninguém dizer "Basta" ou "Quero mudar". Não. E por cada magote cada vez maior de sócios que chegava à fila, mais essa confiança se notava, transbordava e entranhava. Mas não se ouviu um impropério, um insulto, uma palavra feia, fosse sobre o BdC ou PMR ou até dos jornalistas que assistiam atónitos ao que se ali se passava.
À noite ainda ouvi na TV que os 18755 votantes, que constituíram o maior número de votantes numas eleições do Sporting, vieram votar por "medo". Seja lá o que isso for.

Imaginem agora que os 18755 sócios que votaram ontem, mais aqueles cujo voto não foi reconhecido por falhas notariais, eram uma grande mão.
O que se passou ontem foi que essa grande mão calçou uma luva branca, aquela luva branca que o Éder levou para a final do Europeu, e deu uma valente chapada de luva branca em todos aqueles que nestes últimos 4 anos mentiram, omitiram, distorceram, gozaram, com o Sporting, sejam eles jornalistas, opinadores, adeptos rivais, sportinguistas ilustres, croquetes anónimos. E com um sorriso nos lábios, os olhos lacrimejados pela emoção mas já ensonado pelo adiantar da hora, lhes disse baixinho: "Ide bardamerda mais a desunião e a crispação no Sporting!".


2 comentários:

  1. Bem haja.

    Bela bofetada do Sporting, BdC e os sócios a todos quantos têm prosseguido com a infame liturgia de insultos, notícias falsas, insinuações, distorções sobre nós, o nosso presidente e o próprio clube. Que meio de Com. Social escapa à falta de vergonha reinante? Record, com a sua lengalenga de defesa a tudo o que é do Polvo Vermelho, e os ataques a tudo o que é do Sporting? O Jogo, que finta aqui e ali para agradar a dois senhores - Polvo Vermelho e o FCP? SIC e TVI que emitem programas dedicados ao futebol pejados daqueles que se reunem na Catedral da Cerveja para difundir as mentiras do Polvo? CM e CMTV, que perseguiram durante anos Cristiano Ronaldo (e perderam cada um dos processos em tribunal movidos pelo jogador) e desde que JJ ingressou em Alvalade se têm dedicado a perseguir JJ, BdC e o Sporting C.P.? Ninguém escapa! Felizmente temos o nosso próprio canal, a Sporting TV.

    Bela bofetada, e bela crónica, Lets Play a Game.

    ResponderEliminar