domingo, 30 de abril de 2017

Por-se a jeito

É uma expressão tipicamente portuguesa.
Ela foi de mini-saia para uma festa onde costumam lá estar muitos homens. "Pôs-se a jeito" para ser violada. O Charlie Hebdo tinha a mania de publicar aqueles artigos e caricaturas a gozar com a religião. "Puseram-se a jeito" para serem atacados. Aquela malta do Sporting andava a fazer o quê às 3 da manhã junto ao estádio da Luz? "Puseram-se a jeito" para que houvesse aquela tragédia.
A cartilha é a mesma e tenta passar a ideia de que a culpa terá sido de quem morreu, pois provocar tem como resultado isso mesmo, a morte. Por acaso já se saberá que afinal quem provocou inicialmente nem foi quem morreu. E quem matou só não matou mais porque não conseguiu. E não seria a primeira vez que andava nesta vida de ajustes de contas com adeptos de clubes rivais.
Sou daqueles adeptos que gosta de claques de futebol. Mas gosto pela parte bonita que emprestam aos jogos e ao ambiente festivo que criam. São eles que criam os cânticos, que animam o resto do estádio, que puxam pela equipa, que são o barómetro da popularidade da equipa. Mas detesto o resto. Detesto a cultura de grupo e violência que muitas vezes carregam. Detesto a marginalidade que lhes está associada, bem como aquela sensação de impunidade de que tudo o que se passa com claques, tende a ser branqueado ou esquecido.
Se haveria assunto em Portugal que deveria unir todos os agentes desportivos ligados ao nosso futebol, esse assunto deveria ser o combate a essa marginalidade. Infelizmente, nem neste tema, mesmo que ensombrado pela morte de mais um adeptos, consegue mobilizar os nossos dirigentes. Muito pelo contrário, o que temos assistido nestes últimos dias é a mais uma sessão de branqueamento do comportamento de marginais, desvalorização daquilo que significam e do resultado das suas acções.
A forma indigente como a comunicação social tem passado pelo tema é constrangedora, mas reveladora da sua relação com o futebol. Assim que se soube do contexto da morte do adepto, bem como da identidade de quem o matou, tiveram obviamente que falar no assunto. Mas fizeram-no sem tocar no óbvio, que salta à vista de toda a gente mas que ninguém tem coragem para desmascarar: qual é a ligação desse indivíduo à claque "No Name Boys" e qual é a ligação desta claque ao benfica. Numa primeira fase tentaram-nos vender que, enfim, essa claque terá sido provocada e respondeu à altura. Hoje sabemos que não terá sido bem assim, pois terão sido os mesmos a provocar e a terminar os acontecimentos. E a forma como tudo se passou, na véspera de um derby, num espaço público, sem aparente controlo policial, demonstra alguma falta de controlo de quem deveria zelar pela nossa segurança. E pergunto eu: a não assumpção do benfica em legalizar a claque tem implicações quanto à sua monitorização policial? Não estará o benfica, nesta sua típica manobra de descartar toda e qualquer responsabilidade, a prejudicar as acções policiais preventivas? E assim sendo, em última instância, não serão os dirigentes do benfica, em nome da instituição, responsáveis morais por tudo quanto essas "claques ilegais" perpetram, nomeadamente a morte do adepto italiano?
Ou a culpa será do próprio adepto que morreu? 

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Quatro sentimentos de um sportinguista

Estou triste. Amargurado. Desiludido. E fodido da vida.
Estou triste porque ainda sou de um tempo em que o futebol, mesmo aquele disputado acerrimamente por Sporting, benfica e porto era algo saudável. Os jogos eram às 15 horas da tarde, nas bancadas havia verdadeiro convívio entre adeptos, mesmo de clubes rivais, sendo as crianças presença assídua e normal nos jogos. As claques serviam para apoiar os clubes. Apesar de um ou outro cântico mais ríspido, ou de uma ou outra palavra de ordem mais ordinária, as claques pertenciam à parte bonita do futebol. Quem não se lembra de como era a curva sul do velhinho Alvalade? Lindo! Nesses tempos, princípios dos anos 80, era impensável imaginar que algum adepto poderia ser assassinado por delito de opção futebolística. Não havia mil e tal comentadores facciosos e tendenciosos a minar a opinião pública. O jornalismo desportivo, consignado ao canal público e a três jornais tri-semanais, falava de futebol, não de "tendências". Vejam o que começou a mudar em meados de 80 e como foi possível chegarmos ao estado em que o futebol chegou hoje.
Estou amargurado porque não prevejo melhoria a este futebol nacional. A última semana foi exemplar: o presidente do benfica teve uma atitude desprezível e completamente descabida perante a gravidade de ter morrido um adepto às portas do seu estádio. Comparem o que se escreveu quando os super-dragões cantaram a música do Chapecoense com o que se escreveu após a morte do Ficcini. Como é possível ignorar as ligações mais que evidentes entre a claque "ilegal" No Name Boys e o benfica? Vivemos num país onde quase metade da população é simpatizante de um clube de futebol, pelo que a comunicação social está constantemente embrulhada nesse dilema entre desmascarar o presidente sonso do clube com mais adeptos e perder audiências ou então ignorar os gritos à sua volta e agradar ao adeptos do clube do regime. Nós, Sporting, enquanto andarmos a batalhar contra toda a sujidade que vem do outro lado da 2.ª circular, seremos sempre os maus da fita, os desestabilizadores, os incendiários. Quando a abertura de um restaurante é mais importante que um seminário onde se debate o futuro do futebol, está tudo dito.
Estou desiludido porque há uma verdade insofismável nisto tudo. É que para continuarmos a ter razão e moral para criticarmos o que se passa no futebol, também temos de mostrar um futebol com mais qualidade e resultados do que este que temos mostrado. Precisamos do Sporting da época passada, para que todos vejam e reflictam como é possível aquela equipa ter perdido o campeonato para a que o ganhou. Sem esse "moral" de mostrarmos que os outros só nos ganham com artimanhas e jogo baixo, também nos começam a faltar forças para lutar contra o Estado Lampiânico. Tínhamos de incutir na equipa precisamente aquela raiva, que todos os sportinguistas sentiram quando o último campeonato acabou e viram a tremenda injustiça que se passou. Os jogadores tinham de rasgar o equipamento, bater com os punhos cerrados no chão, gritar de raiva, como muitos de nós fizemos. Deviam entrar em cada jogo deste campeonato com ganas de demonstrar, em 34 passos, o embuste que foi a época de 2015/2016. O jogo do passado sábado, poderia ter sido preparado psicologicamente para explorar essa "raiva" contida nos jogadores. E estou desiludido porque, claramente, e como nos outros jogos da época, essa "raiva" não foi incutida. Ou se foi, a mensagem não passou.
E por isso estou fodido da vida. Li aqui há tempos que o André Villas-Boas, quando chegou ao porto no verão de 2010, a primeira coisa que fez foi colar fotos no balneário de jogadores do benfica a festejar o título da época anterior. Quis incutir precisamente aquela "raiva" que falei atrás. Todos sabemos como foi essa época de 2010/2011, mesmo com os empurrões azuis no inicio da época. Estou fodido da vida porque tenho de recuar quase até à década de 80 para me lembrar de equipas do Sporting aguerridas, agressivas, viris, que entravam em campo com tudo. Temos um presidente que se atira de cabeça contra tudo que seja contra nós, temos uma massa associativa e adepta que está com o presidente, que puxa pela equipa, que está sedenta de justiça. Estava na altura de termos uma equipa que fosse o espelho do presidente e dos sportinguistas, com jogadores que em campo fossem uns verdadeiros leões! E nem eu, nem nenhum outro sportinguista, depois do fracasso que foi esta época, admitiremos algo pró ano que não seja assim.

domingo, 23 de abril de 2017

A vitória do cinismo

O jogo de ontem foi um hino ao cinismo.
Infelizmente o derby havia começado horas antes das anunciadas 20h30 pelos mais tristes e infelizes motivos. A morte de um adepto assinalou uma já longa e abominável lista de vitimas do hooliganismo nacional. Pelo meio, naquilo que tresandava de cheiro a homicídio puro e duro, foi "delicioso" ver os telejornais da hora de almoço citar vizinhos anónimos e outras fontes igualmente credíveis, para nos tentar vender que o condutor tinha sido atacado, defendeu-se e sem querer atropelou o rapaz italiano. Comparem esta versão com aquela que circulava hoje de fonte da PJ. Este é hoje o actual estado da comunicação social em Portugal: vale tudo para vender o lado certo da história, sob a capa do pós-verdade e a sombra da cartilha.
Bruno de Carvalho fez o que qualquer homem provido de bom senso faria perante uma tragédia destas. Estendeu a mão ao seu homólogo do benfica. Seria algo bonito, romântico, ver os dois presidentes juntos a assistir a um jogo desta importância na tribuna. Luís Filipe Vieira não só não teve postura de estado como lhe faltou a hombridade que caracteriza os grandes Homens nos momentos difíceis. Cuspiu na mão apaziguadora que lhe estenderam, desenterrou Vale e Azevedo e desculpou um acto miserável, de uma forma igualmente miserável. Se tivesse sido BdC a dizer o que LFV disse, teríamos conversas, debates, aberturas de telejornais, tudo em teor condenatório. Como quem disse foi quem o disse, tudo passou despercebido. Vi hoje à hora de almoço o David Borges a criticar LFV mas indirectamente, quase por mensagens subliminares. É assim que está a nossa comunicação social.
O cinismo não ficou por aqui. Se LFV foi timidamente criticado pela sua vergonhosa atitude, já Rui Vitória foi aclamado de pé por ter defendido compreensão perante o trabalho de Artur Soares Dias. Como se o empate tivesse sido uma mau resultado para RV. De repente os discursos das ceboladas e dos 6 milhões atrás de nós foram remetidos para o país da amnésia, surgindo o treinador encarnado como exemplo do desportivismo e fair-play, em contrate com "outros intervenientes". E que "outros intervenientes" seriam estes? Pois, não é difícil adivinhar.
O jogo em si também não destoou do cenário cínico. Foi um espectáculo pobre, praticamente sem momentos de perigo ou oportunidades de golo. Lembro-me que em jogos assim, desde os finais dos anos 80 até há 3 ou 4 anos atrás, contra o porto, nunca conseguíamos ganhar. Podíamos até, como ontem, marcar um golo madrugador ou de sorte. Mas depois sofríamos também golos de sorte (neste caso, de azar). Ontem, o jogo tinha tudo para ser como esses clássicos antigos. Sem oportunidades de golo, cedo pareceu que só em lances de bola parada se conseguiriam marcar os golos em falta. Se Grimaldo, o marcador de serviço do benfica, não conseguiu marcar, nada melhor que estrear um desconhecido nestes lances e... claro que só o Sporting poderia sofrer um golo dessa maneira. 
Finalmente, os outros dois intervenientes no jogo que, no meu entender, mais contribuíram para o resultado final:
Artur Soares Dias - Não sei o que levou o árbitro a não assinalar aqueles penaltis na área do Sporting. Se o do William ocorre 300 vezes num jogo, o do Scheloto também é facilitado pela manha do Grimaldo, o do Bruno César é daqueles que só não vê quem não quer. Talvez tenha sido da conversa que teve com Rui Costa ao intervalo, pois na segunda parte simplesmente não assinalou nenhuma falta a favor do Sporting no último terço do terreno. Além que a falta que origina o golo do benfica é inexistente. Se fosse para nos fazer sofrer, mais valia ter marcado aqueles 3 penaltis logo na primeira parte, e ter deixado o jogo fluir, E assim apita o melhor árbitro português da actualidade.
Jorge Jesus - Na minha ante-visão do jogo, considerei que o seu melhor trabalho táctico seria uma mais valia sobre o benfica e contribuiria decisivamente para uma possível vitória nossa. Ontem não podia ter sido mais diferente. Se a entrada no onze de Paulo Oliveira foi positiva e a de Jefferson espectável, o que dizer das prestações de Bruno César e Alan Ruiz? O que leva o treinador que lançou Matheus Pereira a titular no dragão, a não lançar Podence titular no jogo de ontem? Porque motivo Alan Ruiz quando foi substituído, não foi pelo mesmo Podence mas sim por um desinspirado Brian Ruiz? Será que nos 4 jogos que faltam ainda vamos ver Campbell titular? Não estaria na altura de começar a jogar com Podence, Geraldes, Gelson Dala (no banco) ou até o Palhinha??? Foda-se JJ, assim não dá, né?!?!?!

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Eis o Derby

Quando foram conhecidos os jogos de cada jornada do campeonato, olhei para a próxima jornada e terei pensado o mesmo que milhares de outros sportinguistas: seria a jornada decisiva do campeonato, onde quem ganhasse ficaria a meio passo de ser campeão. Disputado a cinco jornadas do fim, ainda por cima no nosso estádio, seria uma oportunidade de ouro para vingarmos aquele falhanço do Brian Ruiz a meio-metro da baliza.
Quis o destino, a sorte ou o azar, que infelizmente essa história ficaria mal contada. O derby é decisivo, sim, mas não é bem para nós. Uma hipotética vitória nossa poderia deixar-nos mais próximos de algo mais do que o terceiro lugar. No entanto, reconheçamos, é algo muito difícil de acontecer. Pelo contrário, uma vitória do benfica, ou até mesmo um empate, deixa os lampiões praticamente campeões nacionais.
Continuo a olhar amargurado para esta época futebolística. Continuo a achar que, fora duas ou três arbitragens escandalosas (não, não peço mais que isto), bem como um ou outro jogo onde o nosso treinador inventou, estaríamos como todo o mérito colados ao duo da frente e iríamos disputar no próximo jogo o campeonato. Até porque não reconheço a porto ou benfica melhor futebol jogado que o Sporting. Mas enfim, são contas que já foram feitas e refeitas, pelo que não vale a pena continuarmos aqui a chorar por elas.
No jogo de amanhã não esperamos que o Sporting entre em campo com a mesma atitude como entrou em Setúbal, por exemplo. Apesar do nosso campeonato já estar encaminhado, jogos como o de amanhã são necessariamente diferentes, pois carregam atrás de si uma história muito pesada. Mesmo a 8 pontos do benfica, os jogadores entrarão em campo com a vontade de provarem que essa distância é manifestamente exagerada, que o resultado da 1.ª volta é injusto e que na nossa casa mandamos nós. E queremos vencer, não porque queremos entregar o campeonato a A ou B mas porque é esse o nosso ADN - vencer. E porque contra o benfica queremos sempre vencer. 
No jogo táctico, espero por um benfica a jogar lá atrás, na retranca, apostado em explorar em contra-ataque as fragilidades das nossas alas defensivas, mais concretamente a esquerda. Rui Vitória será igual a si próprio: temeroso, borrado, apostando todas as fichas na estrelinha que lhe vai iluminando o caminho. Jorge Jesus também irá ser igual a si próprio: irá provar pela 234.ª vez que tacticamente mete Vitória num bolso, irá procurar o jogo perfeito, consubstanciado numa vitória com nota artística. Dos artistas do jogo, espero que o meio-campo do Sporting se imponha ao adversário, e que a dupla Alan/Dost faça mossa. No lado adversário temo sobretudo dois jogadores: Ederson é um guarda-redes muito bom que quando inspirado consegue parar sozinho a veia atacante do adversário. E Mitroglou, pela capacidade que demonstra em arranjar espaços, furar defesas e aparecer em boas condições de finalização.
Sobre o terceiro interveniente no jogo, Artur Soares Dias, espero que não tenha influência no resultado... será pedir muito?
Que amanhã ganhemos por 3-0, com hat-trick de Bas Dost.
Viva o Sporting!

terça-feira, 18 de abril de 2017

O teu cântico é pior que o meu

A guerra dos cânticos é o novo episódio emergente do panorama futebolístico nacional. Podemos olhar para este fenómeno por dois lados: por um lado, parece-nos ser um bom exemplo daquela velha máxima que nos avisa que "por vezes, o feitiço vira-se contra o feiticeiro"; por outro lado, também é um bom fait-diver para não prestarmos muita atenção ao que de sério se vai passando pelo nosso futebol actual: agressões impunes, castigos absurdos, alegações de "desincentivos" a futebolistas, futebol medíocre.
O primeiro lado é o que nos agrada mais, pois traz consigo algo de justiça divina, "moral da história" e, até, uma ponta de romantismo. Tudo terá começado quando umas quaisquer cabeças pensantes do estado lampiânico, desejosas de acertar contas com o "macaco" desde o jogo da selecção e da visita do porto à Luz, decidiram empolar um cântico dos super-dragões. Inicialmente a coisa correu conforme o guião - ou a cartilha. O assunto foi falado e noticiado até à exaustão, os telejornais deram-lhe destaque no horário nobre, nem faltando sequer a reacção chocada dos adeptos brasileiros com a "torcida" portista. Mas como diz o povo sábio, isto de ter telhados de vidro e rabos de palha é o diabo. É certo que os deuses deviam estar para aqui virados, pois na semana seguinte a essa polémica puseram o Sporting a jogar duas vezes na Luz, em futsal e andebol. E eis então que o país assistiu, ainda com mais ondas de choque, a algo que anualmente se repete cada vez que as nossas equipas visitam Carnide: cânticos e assobios a celebrar o very-light. Só faltou a tarja exibida há dois anos. É certo que nas notícias ninguém referiu que esse é um cenário que se repete há já vários anos quando visitamos o benfica. Também é certo que quase ninguém se lembrou de ir buscar as imagens da tarja ou das declarações do porta-voz oficial do benfica sobre o assunto. Mas pronto, alguém meteu a viola no saco e o rabinho entre as pernas. Ainda tentaram comparar isto, ou até desculpar, com a exibição de uma tarja (infeliz) sobre um acidente na Croácia ou os assobios ao Eusébio no minuto de silêncio em sua memória. O problema é que aqui, como também no caso do cântico dos super-dragões, as direcções dos clubes demarcaram-se e repudiaram os actos, não tendo gozado ou tirado importância ao ocorrido. E é um fartote de riso ver as contorções intelectuais que a inteligência benfiquista usa para demonstrar que a sua massa adepta não é tão má ou pior que a de porto ou Sporting. Então esta que os assobios a imitir o very-light seriam afinal imitações do voo picada da águia.... lampions gonna lampionate 4ever!
O outro lado é o mais macabro, manipulador e sórdido desta história. É pensar que alguém lançou esta guerra dos cânticos tal como lança areia para o ar. É que enquanto o Billy Jigsaw andou a perder tempo a escrever sobre isto, não escreveu sobre o castigo ignóbil de 113 dias de suspensão de Bruno de Carvalho, na vergonhosa dupla "absolvição" de Samaris, nas declarações de Briguel antes do jogo contra o benfica, no que disse o presidente do Rio Ave sobre a abordagem do benfica a Gil Dias, curiosamente na mesma altura em que o director de comunicação do porto deixou algumas insinuações no ar sobre um César, na cartilha, etc. etc. etc.
Infelizmente este é o lado em que mais se revê o nosso futebol, não é com romantismos ou finais de história com moral.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Al-Carnidão

Ontem, o humorista e sportinguista José de Pina inventou mais um termo que irá ficar no nosso ouvido durante os próximos tempos.
Depois de criar a denominação "Estado Lampiânico" para definir a estrutura encoberta e subversiva benfiquista, o humorista lançou um novo termo arabizado que, digo eu, assenta que nem uma luva à cartilha encarnada.
José de Pina é um sportinguista algo incompreendido pelos outros adeptos do nosso clube. Pouco dado à ribalta da TV, começou primeiro a destacar-se no Futebol de Perdição da Sporting TV, tornando-se conhecido assim que entrou para o Prolongamento na TVI24. Humorista acutilante, sarcástico, irónico, José de Pina tem em mim um seguidor fiel do seu humor. Como sportinguista, representa o que de bom a cultura do nosso clube tem: fair-play, elevação no debate, temperamento. 
Não lhe invejo a posição que toma todas as segundas-feiras, naquele programa onde participa um ser inenarrável que já jogou à bola no Damaiense. Pedro Guerra, além da aparência abjecta, tem tudo o que um demagogo mentiroso e manipulador precisa: dom de palavra, voz alta e um discurso onde consegue dizer e desdizer o que disse com a mais desenvergonhada tranquilidade. Perante a passividade do moderador, Guerra consegue ir manipulando os temas do programa, impondo a sua agenda de debate. Para debater com uma pessoa assim, teria de ser preciso alguém com outro tipo de temperamento. Bruno de Carvalho teve-o e humilhou-o quando foi ao Prolongamento em Outubro de 2015. José de Pina não tem esse temperamento, apesar de todas as qualidades que tem enquanto sportinguista, comentador de futebol e figura mediática. Assim de repente, a única personagem que via debater de igual para igual com Guerra era o Carlos Dolbeth, mas temo que nesse dia o programa acabasse em pancadaria. Talvez fosse melhor assim.
Após estas linhas, onde quis apenas enaltecer e homenagear esse grande espírito criativo e mártir da máquina lampiónica, José de Pina, volto ao tema que domina a actualidade desportiva: as cartilhas. Ou melhor, o Al-Carnidão.
Enquanto o amigo Octávio do Crime da Manhã tenta pegar num e-mail escrito por Bruno de Carvalho e dar-lhe a mesma gravidade que o Al-Carnidão merece, o Porto Canal promete lançar hoje novidades sobre a cartilha encarnada. 
Como ponto prévio, sinto alguma frustração por nós, durante toda a época passada, não termos conseguido divulgar oficialmente algo como o Porto Canal divulgou, apesar de todos sabermos que os briefrings existiam. Foi preciso o "Sistema" começar a ter de enfrentar o Estado Lampiânico para que a máquina portista se pusesse no terreno. E o que é certo é que eles descobriram esta coisa e se hoje revelam ao país que havia jornalistas também a receber o briefing, temos matéria suficiente para desmascarar o Estado Lampiânico. É certo que a denúncia do caso dos vouchers, na época passada, também foi um marco importante na nossa afirmação e do trabalho de bastidores que temos de fazer e fazemos. No entanto, é bom que a nossa estrutura ponha os olhos nisto e perceba que temos também nós de ir para o terreno, sujar as botas na lama, em busca de mais podres do futebol português.
Não concebo outra coisa para hoje que não a revelação de nomes de jornalistas que receberam o Al-Carnidão e o usaram para criar sound-bytes pró-benfica. E tenho a esperança que nas próximas semanas, talvez se venha a descobrir que outros actores receberam a cartilha. 
Veremos.  

sábado, 8 de abril de 2017

A Normalidade

No livro "As Origens do Totalitarismo", Anna Harendt defende que o totalitarismo impõe-se sobretudo por que faz um uso descarado do mal (a perseguição dos oponentes na URSS ou dos judeus na Alemanha Nazi), até ao momento que tal acaba por ser aceite pelos cidadãos comuns como sendo algo normal - é a banalização do mal.
Temos carradas de exemplos sobre o que é que na prática significa a banalização do mal. Ainda há dias um camião correu desenfreado numa rua pedonal de Estocolmo, ceifando várias vidas na até então segura e pacata Suécia. Já ninguém usa a hashtag #prayfor ou filtra a fotografia de perfil do Facebook com a bandeira da Suécia. Os mídia passaram a tratar estes atentados já não de uma forma chocante e, ao mesmo tempo, mobilizadora da opinião pública, optando antes por um registo mais suave, quase como difundem um atentado que mata 200 pessoas no Iraque, mesmo que este tipo de atentados em solo europeu fosse algo impensável há dois anos. No final de contas tudo não passa de uma questão de percepção. A forma como encaramos de hoje em dia a normalidade é também ela ditada pela forma como percepcionamos a realidade. Ou, como essa percepção nos é provocada.
Vejamos um exemplo: em Outubro de 2015, Bruno de Carvalho denunciou um esquema ilegal de prémios que o benfica entregava aos árbitros que lhe apitavam os jogos. Inicialmente o esquema foi desacreditado porque, diziam os comentadores, era tudo mentira. Ninguém recebia voucher nenhum. Passados uns dias, assim que se começaram as saber algumas histórias de árbitros que costumavam jantar no Museu da Cerveja, a narrativa passou a ser que o valor gasto nas refeições ficava abaixo do que a UEFA considerava como limite aceitável para uma oferta. Como esse limite era algo elevado, face à realidade económica portuguesa e ao que os árbitros ganham por jogo, banalizou-se o assunto voucher: afinal era uma coisa normal, ninguém se deixa corromper por uma refeição e todos ofereciam alguma coisa aos árbitros. Entretanto a justiça desportiva portuguesa não condenou o clube acusado, pelo que de hoje em dia é normal um árbitro receber um voucher para uma refeição que pode ir até aos 200 euros...
A cartilha do Estado Lampiânico está em fase de normalização. Os noticiários do dia ainda falaram sobre o assunto, contudo os spin-doctors do costume já começam o seu trabalho para modelar a realidade que percepcionaremos. A narrativa hoje é que a cartilha afinal é reveladora da estrutura afinada do benfica (Ribeiro Cristóvão), da adaptação da estrutura a uma época onde a informação é tudo (Rui Gomes da Silva), sendo que o facto desta ser pública, ao contrário da cartilha dos seus rivais, apenas comprova a benevolência dos seus fins (esta é a incrível conclusão deste artigo na Tribuna do Expresso).
Nos próximos dias continuarão a vender-nos que tudo isto é normal. É normal comentadores independentes falarem um discurso alinhado por uma pessoa isenta; É normal esta pessoa isenta fazer estes briefings sem ser assalariada do clube que defende; É normal um clube profissional utilizar este canal para atacar os seus adversários, escudando-se assim nos seus papagaios de serviço sem o risco de incorrer em infracções disciplinares; E outras normalidades que tais. E de normalidade em normalidade, tudo isto será banal, de tão normal que é (esperem até chegar o dia em que se descobrir que a cartilha também é entregue a jornalistas "isentos").
Bem, e que logo à noite ganhemos por 3 ou 4 ao Boavista... como é normal!

quarta-feira, 5 de abril de 2017

O Estado Lampiânico

Muito tenho eu escrito aqui sobre o Estado Lampiânico. E escrevo porque é preciso desmascará-lo, desmistificá-lo, expor na praça pública as suas engrenagens, os seus movimentos, os seus tentáculos.
Sobre o Sistema, que nestas últimas semanas pareceu querer voltar a dar um ar de sua graça, já muito se escreveu, analisou e sintetizou. Aqui não há nada de novo, a única novidade é que poderá ainda não estar tão morto como muitos o julgavam. Já o Estado Lampiânico tem essa grande vantagem de muitos ainda acharem que não passa de um mito, criado por uma corja de anti-benfiquistas avençados de Bruno de Carvalho. O que o Artista do Dia aqui divulgou é algo que para mim não é surpresa, nem para os que seguem os meandros do futebol nacional. 
O Estado Lampiânico sobrevive nesse limbo onde a imprensa desportiva e generalista o colocou, se algo que não se manifesta, um mito, uma história para assustar criancinhas. Ao contrário do discurso directo do actual Sporting, o EL vive de uma teia de amigos e interesses, colocados em lugares chave do mediatismo, que a cobro de uma putativa imparcialidade ou objectividade sussurram as palavras de ordem da cúpula encarnada. Jornalistas isentos, humoristas, políticos, homens de negócio, futebolistas, empresários, presidentes de clubes, tudo é manipulado pelo polvo vermelho. Quem olhar pode pensar que tudo não passa de uma enorme coincidência ou então da maldade do presidente sportinguista. Mas se juntarmos as peças, uma por uma, chegaremos àquela velha máxima de que não existem coincidências.
Este vídeo do Porto Canal estará esquecido dentro de dias. Obviamente que nenhum jornalista sério quererá vasculhar o que significa aquela "cartilha" revelada, porque actualmente não convém à agenda mediática atacar o clube da Luz. Imaginem se um jornalista sério e sem medo de perder a sua promissora carreira começava a vasculhar as redes de amigos do EL. Imaginem que ele começava a analisar a rede de distribuição da "cartilha" semanal e de repente tropeçava numa ponta solta, do género de uma ligação perigosa entre alguém da comunicação do benfica com algum político influente, quiçá até um ministro. E que essa ligação serviria, por exemplo, ou para puxar para a agenda política algum negócio do Sporting. Ou esconder dessa agenda algum negócio do benfica ou de algum dirigente seu... Era um molho de brócolos! Portanto, para evitar tanta chatice, seria mais sensato colocar essa investigação na mesma prateleira que está a investigação aos Panamá Pappers. E manter a aura mítica e lendária do Estado Lampiânico.
No entanto, que estas notícias sirvam para que os sportinguistas percebam, mais uma vez, qual a natureza do inimigo que temos pela frente. E também percebam que temos de continuar de pé firme e a cerrar fileiras, pois só assim juntos e unidos poderemos conseguir derrotá-lo.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

A espuma dos dias

Entre os dias que mediaram o jogo da nossa selecção contra a Hungria até ao jogo do clássico, assisti impávido e sereno a um desfile de "anormalidades" que pensei já não voltar a ver tão cedo. 
Muita coisa se passou nesses dias. Um clube decidiu boicotar um jogo da selecção. Esse mesmo clube, que é conivente com claques ilegais no seu estádio, criticou a FPF pela forma como esta apoia uma claque também ela ilegal. Pelo caminho ficaram ameaças a órgãos federativos, agressões a dirigentes desportivos que se deslocaram civilizadamente ao estádio a convite da federação. No dia do clássico a cereja no topo do bolo: esperas à claque adversária com o lançamento de bolas de golfe contra a mesma. O comportamento da claque "suportada" pela FPF também ela foi alvo de críticas, pois terá entoado cânticos contra o clube que cedeu o estádio à federação.
Pelo meio, o clube que boicota os jogos da selecção e cujos "grupos de adeptos" tentam agredir dirigentes de outros clubes, publicitou um filme da sua fundação, onde supostamente procura promover o fair-play.
No dia seguinte ao clássico, um clube de futebol que tem semeado o medo e o pânico na divisão de elite da AF do Porto, sobe à ribalta e abre os noticiários dos principais canais, graças à agressão gratuita do seu ponta-de-lança ao árbitro, depois de ter feito o mesmo a um jogador adversário.
Este relato do que aconteceu na última semana parece saído de muitos outros relatos que ouvimos nos últimos 20, 25 anos. Agressões, impunidade, branqueamento. Guerra norte/sul, andrades contra lampiões, sistema versus estado lampiânico. Apenas um ponto que destoa neste quadro negro, que tem sido a caricatura do nosso futebol contemporâneo. E que ponto é esse?
Na semana passada, enquanto o país futebolístico ardia com a guerra entre andrades e lampiões, ficou-se a saber que Bruno de Carvalho foi suspenso por 113 dias, devido a palavras injuriosas (!!!) contra Vítor Pereira. BdC reagiu criticando o teor da decisão do conselho de disciplina da FPF, o que lhe valeu a instauração de novo procedimento disciplinar...
A Espuma dos Dias é um conhecido livro de Boris Vian, que vos aconselho a ler. A "espuma" que está referido do título não é mais do que a reflexão sobre a fragilidade da existência humana, num mundo onde toda a felicidade é apenas aparente. 
No futebol português, aceitou-se a aparência de que tudo o que aqui corre mal é culpa do Bruno. O Bruno insulta, maltrata e ultraja. O nosso futebol é um grupo de cavalheiros mais o Bruno. O Bruno está a mais, estragou o futebol português, merece ser corrido. Coitada daquela lagartagem, uma autentica carneirada, que se deixa iludir pela banha da cobra que o Bruno vende. Esta é a aparência que nos vendem, onde só há felicidade sem o Bruno. Onde só é bom o que o Bruno critica. E justas são as penas que condenam o Bruno, por mais estupidamente desproporcionadas que sejam. 
A realidade é no entanto outra: agressões, violência e ameaças, sem que - oh, pasme-se!!! - o Bruno intervenha. Os exercícios de branqueamento levados a cabo pelo vídeo da fundação benfica, uns dias após adeptos seus tentarem agredir Jaime Marta Soares no seu estádio, ou a forma como Lourenço Pinto mitiga o comportamento violento do Canelas 2010, contra quem os adversários já se recusavam jogar, não conseguem esconder-nos a espuma da realidade. Essa triste e infeliz realidade, de que o actual estado de podridão do futebol português está, fatalmente, ligado a porto e benfica. E não é, afinal, por culpa do Bruno.

domingo, 2 de abril de 2017

Sobre o clássico: a tristeza que me invade

Chego à triste conclusão que não fora alguns jogos muito mal apitados, bem como a aposta falhada em baladas, castanhos, markovics e outros, poderíamos estar hoje lá em cima na luta.
O clássico de ontem não foi um bom jogo. Teve momentos de emoção e por vezes foi rasgadinho. Mas dava a impressão que estaríamos a assistir a um derbi entre bairros, tipo Sacavenense contra o Olivais e Moscavide, do que propriamente um jogo entre o primeiro e o segundo classificado do nosso campeonato. Nenhuma das equipas demonstrou ser claramente superior à outra, boa parte do jogo disputou-se longe das balizas e os treinadores mostraram mais medo de perder do que vontade de ganhar. NES incompreensivelmente deixou o seu melhor avançado no banco e RV deu a primeira parte toda ao adversário. Entre um ou outro bocejo, destaque para a jogada onde Casillas evita por duas vezes o golo do benfica ou quando o Ederson se lançou aos pés do Soares quando este se isolava. Um jogo morno, insosso, mas em linha com o que estas equipas foram produzindo ao longo da época.
Poderíamos estar hoje mais próximos ou até á frente da dupla porto/benfica mas não estamos. Verdade seja dita que esta época também não temos estado a mostrar o futebol engrenado e devastador da época passada, Mas o que temos mostrado não fica atrás do produzido pelos nossos rivais. Pelo contrário, ficamos mais convencidos que estaríamos lá, na luta, se outros factores não se tivessem manifestado nesta época.
Que factores são esses? Sobretudo dois. Um é externo e outro interno. O externo tem claramente que ver com as arbitragens prejudiciais de que fomos alvo. Assim de repente, lembro-me de pelo menos 10 pontos que nos foram retirados de forma suja: Guimarães (fora), benfica, Braga e Marítimo. Contra estas perdas não podemos fazer muito: chorar e gritar bem alto aos microfones, manobrar e influenciar nos bastidores. É um trabalho de sapa e demorado, pelo que os seus frutos não serão visíveis num curto espaço de tempo. O factor interno tem que ver com os erros de casting cometidos na presente época, dos quais culpo na mesma medida a equipa técnica e a direcção. A aposta nas tais vedetas em vez da nossa promissora miudagem não impediu que tivéssemos escandalosamente perdido pontos com o Tondela, Rio Ave ou Nacional. Só aqui conto 7 pontos que hoje nos poderiam garantir uma posição chave para conquistar o título desta época. Além de que com equipas mais fortes, estaríamos mais defendidos contra arbitragens maldosas, como ocorreu no ano passado em vários jogos.
Enfim, que o jogo de ontem tenha servido para os nossos homens do futebol fazer uma introspecção e um acto de contrição por tudo aquilo que poderíamos ter feito melhor e não fizemos, para que a próxima época nos corra bem melhor.
E se os astros tiverem alinhados, que os nossos rivais empatem mais 4 jogos até ao final...