quinta-feira, 11 de maio de 2017

Amigos como dantes?

De repente voltámos a ser amigos.
Havia algo de romântico em continuarmos sós contra o mundo. Se bem que no futebol português o mundo resume-se a Sporting, benfica e porto. Os outros, tirando um ou outro clube com mística mais bairrista (Vit. Guimarães, por exemplo), limitam-se a seguir o clube mais poderoso do momento, esperando com isso comer algumas das migalhas que lhes atiram.
Éramos nós contra o Sistema e o Estado Lampiânico. Nós contra as nádegas. Contra o papa e o orelhas. Contra os corruptos, os wanna be, as frutas, os cafés com leite, os vouchers e as cartilhas. Éramos nós contra os amigos dos fundos e do Jorge Mendes. 
Éramos como aqueles cavaleiros medievais que salvavam donzelas dos perigos ou aqueles pistoleiros do Oeste que defendiam aldeias contra os bandos de malfeitores. E eu gostava desse papel que nos coube, pois como diz o ditado, "Antes quebrar que torcer". 
Dirão alguns, ou muitos, que a recente aproximação de Sporting ao porto não é mais do que a vitória do pragmatismo. Churchill teve de se aliar com Estaline contra Hitler, e os americanos apoiaram os mujahedins (futuros talibãs) contra o inimigo comum soviético. "É a política, estúpido!", dir-me-ão.
Eu gosto de Política, daquela política a sério, levada a cabo por Homens fieis às suas convicções e focados no seu objectivo, de preferência um objectivo de bem comum. E com visão de estado, que saibam interpretar não só os sinais imediatos como aqueles que virão a médio e longo prazo. Os livros de História estão carregados de personalidades que se revelaram políticos extraordinários e cujas acções mudaram o mundo. Churchill foi um deles. Antes dele, um titubeante Chamberlain foi a Munique celebrar uma paz com Hitler, que mais não foi do que um compasso de espera para o inicio da 2.ª Guerra Mundial. O primeiro focou-se num objectivo imediato, de derrotar o inimigo nazi. O segundo, mais preocupado em evitar a guerra, não leu os sinais evidentes de que os nazis iriam, mais mês, menos mês, começar com a sua guerra de conquista e extermínio mundial.
Salvo as devidas proporções, este reatar de relações este Sporting e porto soa obviamente a aliança com o objectivo de derrubar o inimigo comum. Aparentemente o momento até seria propício para nós. Embora a péssima época que estamos a fazer, no cômputo geral destes últimos quatro anos, assistimos a um declínio portista e a um incremento sportinguista. Significa isso que estamos melhor que o porto? É que uma aliança destas só faz sentido se o nosso aliado for inferior ou se tivermos a certeza que no futuro o conseguiremos ultrapassar. Churchill tinha noção que a URSS, apesar do seu poderio, soçobraria perante uma futura aliança ocidental, por isso não temeu em aliar-se a ela no momento. Que Bruno de Carvalho estará obcecado em tornar o Sporting no lado forte desta aliança, não tenho a mínima dúvida. Mas terá ele os meios necessários para o fazer? E o porto estará assim tão cambaleante para aceitar ser o lado fraco da aliança? Não estaremos, como Chambarlein, a subestimar o nosso "campagnon de route"?
Eu ainda me lembro dos resultados que estas aproximações do Sporting ao porto geravam. Sim, recebemos o Rui Jorge (que jeitaço nos dava agora), mas pouco mais. O nosso papel acabou por se reduzir a uma espécie de muleta do porto, com perda de poder competitivo, cuja consequência foi o nosso desaparecimento desportivo a partir da época de 2009/2010, cuja factura ainda estamos a pagar. Por isso sim, estou muito, mesmo muito, preocupado com este cenário. Oxalá me engane.

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