domingo, 28 de janeiro de 2018

História com VAR feliz

Certamente que todos nós já fomos ao cinema ver aquele filme romântico, onde no final o protagonista beija a protagonista e o filme acaba como todos felizes, espectadores e personagens.
Geralmente nesse tipo de filmes percebemos aos 5 minutos que no fim os protagonistas ficam juntos e darão o seu beijo da praxe. Mas se fosse assim tão fácil, ele chegar ao pé dela, arrebatar-lhe pela cintura e beijá-la ao fim de 10 minutos, a história acabava logo ali e não tinha piada nenhuma. Por isso é que os filmes românticos são sempre mais complicados. A protagonista já namora com um gajo que é um grande otário, depois conhece o protagonista através da melhor amiga, entretanto a protagonista apaixona-se pelo protagonista mas vê-o a beijar uma loira escaldante que afinal é uma prima afastada que veio à cidade de férias, há umas quantas correrias, uns desencontros, até que por fim o protagonista vai a correr pelo aeroporto fora e à porta do avião berra um "I love you" e beijam-se os dois ao som dos aplausos dos transeuntes que assistem à cena. E com isto passam-se duas horas no cinema, onde ficamos prendidos ao ecran à espera de um final que desde os 5 minutos sabíamos que só poderia ser aquele.
Com o Sporting passa-se também o mesmo. Ontem poderia ter chegado ao pé do Vitória de Setúbal e ter arrumado a questão em 30 minutos, bastando para isso ter posto a equipa que jogou na segunda parte e ter marcado uns 2 ou 3 golos para arrumar logo com a questão. O problema é que com isso acabávamos por mudar de canal aos 30 minutos e cagávamos para o raio da taça, porque nunca gostámos dela e naqueles primeiros 30 minutos não tínhamos feito mais do que a nossa obrigação de clube grande. Mas isso não é o Sporting. Não me lembro de ter ganho uma competição que fosse sem que houvesse uma ponta de dramatismo. Fosse o campeonato de 2002, a final da Taça do Tiuí, ou outras dezenas de troféus ganhos na "garra", tudo teve de ter sangue, suor e lágrimas para ser ganho. Para o bem ou para o mal, isto é o que eu chamo "ganhar à Sporting".
Começámos mal o jogo. O Setúbal entrou melhor e o Paciência filho revela já a mesma apetência que o Paciência pai tinha para nos marcar golos. Um pouco de sorte à mistura, pois podíamos ter sofrido o segundo golo, lá chegámos ao empate num lance que, como não poderia deixar de ser, teve tanto de decisivo como de épico. Um lance claríssimo, que tal como em 2009 iria passar em claro, não tivesse sido a perseverança de alguns defensores da verdade desportiva em implementar em Portugal uma coisa chamada VAR. E aquilo que há 4 anos era visto como uma "patetice" do gordo líder dos carneiros de Alvalade, eis que em 2018 serviu para que mais outra final não ficasse borrada da merda que outros teimam em fazer nos nossos jogos. Era a primeira lição do destino.
Depois vieram os penaltis. Novamente o destino a ensinar-nos que quem espera sempre alcança e de lá veio a sua segunda lição: o jogador do Vitória, que deveria ter sido expulso no lance do penalti, falha o único pontapé da sua equipa. 
E como mandam as regras da vida, não há duas sem três. E eis que a terceira e última lição do destino surge nas mãos de William Carvalho. Ele que sozinho carregou o fardo de falhar o penalti decisivo do europeu de juniores, que falhou ano passado um penalti decisivo na Madeira e que ainda na meia final também havia falhado, acabou por ser o herói improvável de um jogo onde desde o início sabíamos que iria acabar com a vitória do nosso lado.
Apesar desta competição não ter grande interesse para mim nem para a maioria dos sportinguistas, foi tanta a azia que esta vitória despertou em andrades e lampiões, que no final todos nós sentimos um gosto especial quando o nosso capitão Rui Patrício, que num gesto do seu já típico altruísmo, chamou William Carvalho para levantarem uma taça que já devia ser nossa há nove anos.  

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Pontapear o destino

O destino continua a pregar-nos partidas. Algumas são mais maldosas do que outras e a de ontem até foi benévola. Aconteceu tudo de uma maneira tão certinha, são clarividente e com um final tão cheio de moral, que até parece ter saído da pena de um Homero. Esta meia-final foi como que uma Odisseia para nós. Mas que não acabou ontem. Ainda mal começou.
No meu post de ontem falei de como o destino é especialmente irónico para o nosso lado. De repente chegávamos à meia-final da competição que sempre desprezámos e amaldiçoámos e vimo-la como uma tábua de salvação. Precisávamos desesperadamente de uma vitória ontem, para exorcizar os medos que temem em nos perseguir. E tal como uma tragédia grega, o jogo de ontem decorreu seguindo hipnoticamente aquele compasso angustiante e de suspense que todos os sportinguistas conhecem e sabem como acaba: ou muito bem ou muito mal.
O prólogo do drama de ontem começou logo pela manhã, quando Francisco J. Marques resolveu meter-se em mindgames e vociferou algo como "verdade desportiva ferida". E disse-o sem se rir. Tempos houve em que o nosso clube cedia facilmente a estes "joguinhos" psicológicos e os jogadores visados entravam em campo a tremer. FJM tentou mexer-nos em dois pontos sensíveis: lembrou-nos Setúbal e atacou o actual símbolo da garra sportinguista, Fábio Coentrão.
Começa o jogo e logo no seu inicio um daqueles lances que de tão óbvio que foi apenas nos fez rir, quando Bas Dost foi "abraçado" por Danilo. O árbitro não o quis ver, o VAR também não. E não venham com a treta do fora-do-jogo, pois ainda a bola não tinha sido chutada já o portista tentava acasalar com o holandês voador. O primeiro lance do desafio resultava na primeira ironia do destino: o jogo começou mesmo com a verdade desportiva ferida, mas do nosso lado.
Depois o desenrolar do drama, cheio de clímax e anti-clímax: lesiona-se Danilo, lesiona-se Gelson. Felipe lavrava impunemente o campo e tornava-se óbvio que o primeiro amarelado teria de ser um jogador nosso. E até isso decorreu como costume. Não faltaram as invenções de JJ, ao encostar Bruno Fernandes à direita. Felipe continuava a lavrar o campo. Coates acerta no poste, lembrando-nos que ficar a ganhar 1-0 naquela fase do jogo era muito fácil para nós. Rui Patrício faz uma defesa quase à entrada da grande área, depois de um disparate de Mathieu. O porto marca um golo em fora-do-jogo mas o VAR anula-o bem, como que premiando o clube cujo presidente mais se bateu pela sua adopção. No final da partida o assalto dos portistas fazia-se perante a contemplação do "Ferrari vermelho", que decidiu não marcar mais nenhuma falta a nosso favor do meio-campo para a frente. Pelo meio a entrada de Montero e Brian Ruiz em campo, que ninguém compreendeu bem para quê, excepto o destino, claro está.
O êxodo - ou conclusão - do drama fez-se ao mais alto nível e como já todos esperávamos. Por penáltis. Decidir um jogo desta natureza por penáltis seria algo demasiado fácil por si só. Temos bons executantes e um dos maiores especialistas do mundo a defendê-los. Ganhar assim não teria graça nenhuma. E o Sporting não seria Sporting se Coates e William Carvalho não tivessem falhado aqueles penáltis. Até acho que foi por isso que WC sorria enquanto caminhava até ao local da cobrança do pontapé. Ele sabia que ia falhar e que tinha de o falhar, então que o falhasse com estilo.
O drama terminou quando Brian Ruiz caminhou para bater o penálti decisivo. Quem melhor senão o "pé frio", o "patinha feio" da Costa Rica para desenvencilhar todo aquele novelo em que a eliminatória parecia manietada?
Infelizmente o drama ainda não acabou. Só agora começou. Este foi o primeiro episódio de um final de temporada que será necessariamente como o jogo de ontem: conduzida em altos e baixos, curvas e contra-curvas, solavancos. Teremos de ser fortes, muito fortes. Temos de ter raiva, temos de jogar furiosos, temos de saber sofrer, temos de saber jogar doridos, temos de correr, temos, temos, temos.... 
De que serviu aquele sofrimento todo em Alkmaar se na final, no nosso estádio, soçobrámos daquela maneira tão inglória? Um dia temos de dar um pontapé no destino. Este é o momento.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Ironias do destino "à Sporting". Ou como o nosso clube se assemelha a uma tragédia grega

Disse-o no meu último post e volto a reitera-lo: o nosso plantel para esta época é dos melhores dos últimos 30 anos e é, sem dúvida alguma, o melhor desde 2002. Em comparação com a recente época de 2015/16, onde batemos o recorde de pontos conquistados no campeonato, temos uma plantel mais maduro, com melhores opções em várias posições no terreno, com um conjunto de alternativas mais credíveis no banco. A época que vínhamos vindo a fazer, até empatar em Setúbal, refletia essa mesma qualidade: primeiro lugar do campeonato isolado (à condição, é certo), número de pontos amealhados ao nível das nossas melhores prestações em 18 jogos, invencibilidade interna, presença nas três competições internas e na competição europeia.
No entanto, quis o destino que num jogo que tinha tudo para ser fácil, acabássemos por ceder um empate comprometedor. De repente vimos o porto a fugir-nos e o benfica a aproximar-se. É certo que a 15 jogos do fim do campeonato, ainda estamos longe de entrar naquilo a que se chama de "fase decisiva da época". Mas o abalo psicológico do empate em Setúbal foi de tal ordem, que de repente aquela que era a equipa mais preparada, mais apetrechada e mais motivada para conquistar o título, se vê em janeiro a jogar já a sua sobrevivência para o resto da época. É exagero meu? Não, basta ver o que sportinguistas, portistas e benfiquistas escreveram nos últimos dias. Os sportinguistas, habituados a sofrer este tipo de harakiris, já perderam a conta aos campeonatos que se perderam por causa de tropeções como o de Setúbal. Nem mesmo a super-equipa que foi campeã em 2002 se safou deles, um deles na mesma cidade. Em sentido oposto, os nossos rivais conhecem a nossa fraqueza e fazem o seu jogo, pois acreditam que mais cedo ou mais tarde quebramos psicologicamente.
E o destino, este nosso fiel amigo, voltou-nos a pregar uma partida, como só ele nos sabe fazer. Eis que de repente estamos a jogar o resto da época precisamente na competição que sempre desprezámos. É como se a nossa sobrevivência dependesse daquela pessoa que detestamos. Eu faço parte do lote de adeptos que abomina a Taça da Liga. Acho-a desnecessária, sem nexo. Serve apenas para dar mais alguns trocos aos clubes a troco de direitos televisivos. A competição nem os adeptos respeita, pois marcar jogos para as 21 horas, em Dezembro, a meio da semana, não é de certeza a pensar neles. Quebra o ritmo do campeonato na altura do Natal, cansa os jogadores, etc. etc. Junto a isto os inenarráveis episódios da "mão" do Pedro Silva, do dolo sem intenção ou do penalti do Edinho, e tenho as cerejas em cima do bolo.
Se há clube onde destino e fatalidade assentam que nem uma luva, esse clube é o Sporting. 
Por vezes penso no Sporting como uma tragédia grega. Estamos como Sísifo, a carregar eternamente o pedregulho serra acima, sem nunca chegar ao topo. Andamos sempre com a espada suspensa sobre a nossa cabeça, como Dâmocles. Mas se até Ulisses, depois de muitos anos a vaguear pelo mar por maldição dos deuses, conseguiu chegar à sua ilha de Ítaca, espero também que nós um dia possamos derrotar e ultrapassar toda a fatalidade que nos assombra. 
E da mesma forma que os heróis da antiguidade, de uma forma ou outra, acabavam por ter de enfrentar e superar os seus medos para atingir a Glória, também o Sporting tem de percorrer o mesmo caminho. E que melhor forma de iniciarmos esta caminhada final, senão a de enfrentarmos a mais fatal das competições, saindo por cima?

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Depois da azia

Não está fácil...
Pelas 21 horas de Sexta-feira, aquele que podia ter sido mais uma vitória gorda do Sporting, transformou-se num tremendo pesadelo, seguida de uma não menos tremenda azia para toda a nação sportinguista.
Por vezes chego a imaginar que o Sporting não existe, é apenas fruto da imaginação de um Shakespeare ou de um Camilo Castelo Branco, tal é a nossa apetência para as tragédias. Não há época em que não nos aconteça aquele momento que todos nos lembramos da Lei de Murphy, de que se algo pode correr mal ao Sporting, então vai mesmo correr mal. Desde o Wilson Eduardo a marcar-nos golos, a cedermos empates quando ganhamos por 3 golos de diferença, sermos eliminados de provas da UEFA após levarmos dois golos de avanço na primeira mão, perdermos um campeonato em casa por 3-6, onde o melhor jogador adversário não se tinha transferido por uma unha negra para o nosso clube... etc. etc. São quase 40 anos em que me lembro de como este clube é permissivo a essa coisa que o povo chama de "ironias do destino". Com o resultado em 0-1, perante a parcimónia demonstrada pelos nossos jogadores na hora de matar o jogo, a entrada do Edinho em campo fez logo soar em mim aquele pressentimento de que a coisa não ia correr bem. Quem melhor para nos encavar, senão um jogador que já o tinha feito no ano passado na taça da carica? E como tantas vezes acontece ao Sporting, o que tinha para correr mal, correu mal. 
Na sexta-feira à noite tive a reacção que 95% dos sportinguistas tiveram: amaldiçoei os jogadores, o treinador, o presidente, o visconde de Alvalade, o Peyroteo (o verdadeiro, não o Peyroteo Couceiro) e o meu pai por me ter feito sportinguista. Vi neste empate a mesma tragédia com que vi o empate contra o Tondela há dois anos, a mão do Ronny em 2006/07, a derrota na Luz em 2005, a derrota com o Estrela da Amadora em 1995 ou o golo do Pedro Estrela em 1996. Tudo resultados que irremediavelmente contribuíram para nos tirar campeonatos que foram decididos por uma unha negra. Quis atirar a toalha ao chão, rasgar o cartão de sócio, queimar o cachecol e a gamebox, desligar-me para sempre do futebol. No sábado ainda não conseguia falar de futebol, sem antes balbuciar umas quantas caralhadas. Domingo já consegui ver futebol e ler as gordas dos jornais deportivos. Aos poucos a azia ia desaparecendo, o sentimento derrotista ia-se transformando naquele véu de esperança verde e branca que tanto dos caracteriza.
Hoje já consigo (pelo menos tento) fazer uma análise mais fria aos acontecimentos de Setúbal, sem ter de despedir o treinador e metade da equipa de futebol. Mas há certas coisas que me continuam encravadas na garganta. Para simplificar, vou directo a duas ocasiões do jogo que julgo ser a imagem daquilo que é hoje o Sporting: o passe de Bas Dost a Bruno Fernandes, quando tinha a baliza à frente para fazer o 0-2, e o desespero de Fábio Coentrão quando o penalti foi assinalado.
Bas Dost é sem dúvida dos melhores avançados que passou pelo nosso clube nos últimos 30 anos. De Manuel Fernandes e Jordão pouco me lembro, excepto a exibição do primeiro no jogo dos 7-1. Depois passaram Paulinho Cascavel, Fernando Gomes, Jorge Cadete, Juskowiak, Acosta, Jardel, Liedson... Tirando estes dois últimos, principalmente Jardel, creio que não houve melhor que o holandês voador. Por isso dizer que Bas Dost não serve ao Sporting, é uma asneira, para não dizer alucinação. Mas isso não implica que desistamos de tentar compreender o que leva o nosso "matador" preferir passar a bola ao companheiro de equipa, que estava tapado por dois adversários, em vez de fazer aquilo em que é bom, que seria encher o pé e rebentar com a baliza, fazendo o 0-2.
Mas quem diz Bas Dost, diz praticamente o resto da equipa. A forma como na segunda parte não matámos o jogo, nos vários momentos em que chegámos à área adversária em superioridade numérica ou em lances de bola parada, bem como a permissividade com que deixámos que Edinho se isolasse após uma charutada da defesa sadina, é inadmissível numa equipa onde a qualidade é inquestionável. E é essa qualidade que nos tem valido em outros jogos onde o desleixo por vezes atinge níveis preocupantes, como na primeira volta contra este mesmo Setúbal, ou nos jogos contra Estoril e Feirense, por exemplo.
No plano oposto temos Fábio Coentrão. A sua reacção ao penalti e já depois no banco de suplentes, foi a reacção que todos os sportinguistas tiveram com aquilo que lhes estava a acontecer, lembrando Sá Pinto há mais de vinte anos em Viena. O nosso caxineiro chegou no verão a Alvalade com o rótulo de jogador acabado. Teve um começo titubeante mas a meio da primeira volta agarrou em definitivo o lado esquerdo da defesa, ultrapassando uma milagrosa recuperação. Tudo isto no clube do seu coração, coisa que actuamente tem um valor relativo no futebol profissional, mas que se calhar tocou mais fundo em Coentrão. Mais do que a reacção de um sportinguista, a reacção de Coentrão é de alguém que já pisou grandes palcos, conquistou títulos, que entretanto foi afastado e humilhado e que nesta sua "segunda vida" depositou todas as esperanças e forças para recuperar um espaço que já foi seu. E sentiu a displicência da equipa no lance do penalti como uma facada nas suas costas. Daí a sua explosão de raiva.
Este Sporting versão 2017/18 é possivelmente dos melhores planteis das últimas décadas, seguramente o melhor desde 2002. Tem qualidade individual e de conjunto. O treinador é experiente. O presidente é um apaixonado e faz de tudo para proporcionar aos sócios e adeptos o gosto de ver o seu clube campeão nacional. Os adeptos são excedíveis no apoio incondicional à equipa. O que falta então a este Sporting? Acredito que o que tem a mais em qualidade, falta-lhe por vezes em raiva, fúria de vencer. Lembro-me da entrevista de Jaime Pacheco a Rui Miguel Tovar, onde disse ter ficado chocado com a forma despreocupada como no nosso clube se viviam os maus resultados, em contraste com outras realidades que conhecia.
Ontem vi um suposto tweet oficial do benfica, que entretanto foi apagado, onde aparecia um ferrari vermelho visto por um espelho retrovisor. Junto isto às palavras de LFV, que garantiu que o Sporting não ganharia coisa nenhuma esta época. Peço que juntem isso tudo e colem nos cacifos dos jogadores. Mostrem-lhes os tweets e posts do Facebook dos benfiquistas e portistas a gozar connosco. Metam o vídeo com a reacção do Coentrão em loop, no balneário. Deem injecções de raiva aos jogadores.
Faltam 15 jogos para o campeonato, há uma taça de Portugal e uma taça da Liga para ganharmos e ainda temos a Liga Europa. Ainda tenho esperança para esta época. Deem-me essa esperança!

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Voltar ao lugar onde fomos felizes

Diz o adágio popular que nunca devemos voltar ao local onde já fomos felizes. Fredy Montero já foi feliz em Alvalade e os sportinguistas já foram felizes com ele no Sporting. Tal como escrevi aqui há uns dias, a sua saída em 2016 foi um erro que nos custou caro. Mas fará sentido trazê-lo de volta agora, passados dois anos da sua saída?
Montero foi uma das figuras que marcaram o nosso futebol entre 2013/2014 e 2015/2016. Está ligado ao bom arranque da época de Leonardo Jardim, apesar de ter perdido fulgor a meio da temporada. Passaria de titular indiscutível a suplente de Slimani, sem perder aquele sentido de profissionalismo que sempre o caracterizou. Assim de repente lembro-me de três jogos em que saltou do banco para marcar golos decisivos: foi assim na final do Jamor em 2015, quando marcou o golo do empate, foi assim em 2015/2016 quando perto do fim marcou o golo da vitória ao Nacional e também na reviravolta em Alvalade contra o Braga, onde ganhámos  depois de estarmos a perder por 0-2.
A sua saída em 2015/2016 foi-nos apresentada como um mal menor, pois seria o resultado da nossa ausência da Liga dos Campeões nessa época, além de que era um negócio de ocasião por um suplente de 28 anos. Se financeiramente a sua venda até resultou, desportivamente foi um fiasco. Ninguém se lembrou de que Slimani poderia ter passado parte da segunda volta a ser cozinhado em lume brando, com a história do castigo-não-castigo. Teo Gutierrez, que poderia ser o sucessor de Slimani na posição de matador, passeava-se nas praias da sua Colômbia natal. Barcos, que veio para o Sporting no meio do negócio de Montero, não marcou qualquer golo. E pelo caminho cedemos dois empates sem golos em Guimarães e em casa diante do Rio Ave, que permitiram a aproximação do benfica e consequente ultrapassagem após o derby. Com Montero teria sido diferente? Nunca saberemos a resposta, mas atendendo à apetência do "Avioncito" em marcar golos decisivos saltando do banco, podemos acreditar que sim. Pior do que com Barcos, não ficaríamos de certeza.
Chegados à presente temporada, vemos todos que a equipa necessita de mais uma opção atacante. Temos dois avançados, o mortífero Bas Dost, o ponta de lança tradicional de área, e o móvel Doumbia, aquele avançado rápido e ideal para jogar contra equipas subidas, que como sabemos não abundam na nossa Liga. Precisávamos de uma outra opção, especialmente para o lugar de Bas Dost, que nos permitisse suprimir as suas falhas ou ausências. Um jogador que previsivelmente passe mais tempo no banco do que a jogar, mas que a sua chamada á equipa permita garantir entrega e empenho na procura do golo. E o golo. Na primeira volta esse lugar esteve entregue a Gelson Dala, que no entanto foi pouco utilizado por JJ, talvez por não ter ainda maturidade suficiente para desempenhar o papel de suplente decisivo. Saíndo a pérola angolana para Vila do Conde, ficava o plantel com um lugar vago. Pensar que Rafael Leão preencheria a posição, é algo ingénuo. O nosso "menino" ainda tem que crescer e aquela posição pede mais experiência do que irreverência. Vindo Fredy Montero, parece-me óbvio que é a melhor escolha para esse lugar. E sendo Fredy um homem-golo, a sua vinda não será certamente para ombrear com Podence, que tem mais mobilidade e menos golo que o colombiano. São jogadores diferentes e que jogam em pontos distintos do terreno, podendo até se complementar.
Resta agora perceber se a idade não amaciou o instinto matador do colombiano, que ainda hoje é criticado pela forma pouco intensa como por vezes actuava em campo. Ou se pelo contrário, a experiência tornou-o ainda mais incisivo e aguçou-lhe aquele sentido que os pontas-de-lança mais experientes tem, de conseguir estar no local exacto onde aquela bola cai redondinha.
Uma coisa é óbvia, para sermos campeões esta época, temos de fazer uma segunda volta perfeita. E para conseguirmos essa perfeição, temos de nos dotar dos melhores possíveis para cada posição. Estou a gostar da nossa abordagem ao mercado de Inverno, pois é essa mesma perfeição que se está a tentar assegurar. E se assim for, não haverá perna aberta, passadeira encarnada estendida ou bancada em ruínas que nos consiga parar.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Uma peça de teatro by Estado Lampiânico

No passado sábado não assistimos a um jogo de futebol. Assistimos a uma peça de teatro. 
Confesso que tinha alguma curiosidade em ver até que ponto iria a desfaçatez do Braga, numa semana onde foi muito comentada a habitual bonomia com que os bracarenses jogam diante o benfica. O mote estava dado, quando Abel Ferreira decidiu bajular o treinador da equipa adversária, tomando assim partido numa guerra que não era sua. Era tão evidente a passadeira estendida à lampionagem, que eu me perguntava como ficariam os dirigentes do Braga se tivessem de enfrentar a sua massa associativa, perante um espectáculo que se adivinhava.
O Braga da presente época está muito longe da qualidade de Tondelas e Moreirenses, ou até mesmo do Belenenses. É uma equipa que chegou ao final da primeira volta isoladísima no quarto lugar, apenas a três pontos do terceiro posto, com doze vitórias em dezassete jogos. Jogar em Braga, perante uma equipa com este registo, não é fácil. Aquela desculpa, de que a qualidade (a falta dela) das equipas mais pequenas sobressai nos jogos com os grandes, não pegaria aqui. Havia portanto de dissimular o engodo que estava previsto para sábado à noite, embeleza-lo com um jogo de futebol perfeito, para que no final nada pudesse ser posto em causa. 
O guião da peça de teatro que foi representada por Braga e benfica lembrou-me aquelas aulas chatas de filosofia, que eu tive no secundário. Lembro-me vagamente de nessas aulas ter aprendido algumas técnicas de retórica, aquela disciplina que nos ensina qual a melhor forma de argumentar para no fim ganharmos uma disputa. Uma das formas para comprovarmos uma ideia era a adopção da chamada dialéctica hegeliana. Basicamente, o filósofo alemão Hegel defendia que a compreensão da realidade deveria passar por três momentos: tese, antítese e síntese. 
Aplicando a dialéctica hegeliana ao jogo de sábado, chegamos a um resultado que, de tão evidente que é, causa-nos calafrios. Comecemos pela tese que estava em jogo, que era a que o benfica é uma máquina demolidora de futebol. O momento da tese deu-se, como manda a boa retórica, no inicio de jogo. Bracarenses completamente à toa, perdendo bolas infantis, contra o rolo compressor benfiquista. No meio da confusão um passe perdido de um ex-jogador do benfica e golo dos visitantes. Mais passes falhados, mais oportunidades do benfica. Domínio avassalador. Depois veio a antítese, demonstrada já quando o resultado estava em 0-2. A tentativa pífia dos anfitriões de se aproximarem da área adversária, o golo mal sofrido pelo jogador revelação da Liga do mês de Dezembro. Quando o resultado estava num perigoso 1-2 para os forasteiros, eis que chega a síntese, que é o momento derradeiro onde na dialéctica hegeliana se chega ao resultado pretendido. E a síntese chegou-nos com um Braga a precisar de marcar, mas que teimava em trocar bolas no meio-campo em vez de procurar o jogo vertical. As trocas de bola, além de inofensivas, acabaram por provocar duas ou três perdas de bola infantis, de onde resultou o derradeiro golo lampiânico. O resultado estava demonstrado: o Estad... aliás, o benfica é avassalador. Ralou por completo o quarto classificado no seu estádio. O pano caiu sobre o palco, o teatro triunfara.
O problema desta peça de teatro é que de tão perfeita que foi, acabou por fazer desconfiar todos os que gostam de futebol, como desconfiamos daquele aluno mediano que tira 20 valores num exame difícil. No final de contas vemos que o Braga sofreu dos mesmos "azares" que outras equipas em jogos com o benfica: passes falhados em zonas perigosas do terreno, pouca vontade em disputar o jogo pelo jogo ou a falta de vigor na hora de atacar a baliza adversária. O mesmo mal porque passaram Moreirense, Tondela, Belenenses, entre outras equipas, sempre que jogam com o benfica.
Estarei eu a alucinar, quando digo que o jogo de Braga foi uma farsa? Será exagero meu? Não. Veja-se o jogo do Aves em Alvalade. Uma equipa que veio de um jogo a meio da semana, que ocupa uma posição aflitiva na tabela classificativa, chega ao nosso estádio e decide jogar o jogo pelo jogo, dentro das suas limitações. O resultado foi 3-0 a nosso favor, mas os números são enganadores. O Aves, enquanto teve pernas ainda na primeira parte, mandou uma bola à barra e obrigou Rui Patrício a duas intervenções difíceis. Não foi nada do outro mundo, afinal era o aflito e fatigado Aves. Mas o aflito e fatigado Aves conseguiu fazer mais em Alvalade do que o Braga no dia anterior. E porque motivo assim foi? O motivo é simples: num estádio jogou-se futebol. No outro representou-se futebol. E não foi uma representação qualquer, foi mais uma peça de teatro com o alto patrocínio do Estado Lampiânico.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Segunda volta: Não quero mais "momentos Moreirense"!

Final da primeira volta, é altura de se fazer o balanço à meia época que decorreu.
Chegamos ao final da 17.ª jornada com 43 pontos, menos um ponto que na excelente época de 2015/16. Os 43 pontos são fruto de 13 vitórias e 4 empates, num registo de 38 golos marcados e 10 sofridos.
Temos menos dois pontos que o líder porto, somos o terceiro melhor ataque da Liga (contra 40 e 45 golos de benfica e porto, respectivamente) e temos a segunda melhor defesa (contra 9 golos do porto).
Os quatro jogos onde perdemos pontos nesta primeira volta, foram contra Moreirense, Braga, porto e benfica. Se estes dois últimos até se aceita perder pontos, já os dois primeiros foram 4 pontos mandados borda fora, estupidamente. O Moreirense, em 15.º lugar, é uma das equipas mais fracas do nosso campeonato, tendo feito um jogo contra nós de muita luta e corrida. Claudicamos em Moreira de Cónegos um pouco por culpa dos jogos seguintes, as recepções a Barcelona e porto respectivamente. Se virmos que a diferença para o primeiro lugar é de um empate a mais, bem que podemos atribuir a esse jogo a nossa actual posição. Tal como há duas épocas, onde perdemos pontos estúpidos com Tondela, Boavista e União da Madeira, este ano não podemos cometer o mesmo erro. Não deixa de ser assinalável que esta época só perdemos pontos estúpidos com esse adversário, mas como se vê nesta altura, foram dois pontos suficientes para nos tirar a liderança do campeonato. 
É possível repetir os 43 pontos na segunda volta? É. E até fazer mais do que esses. A explicação é um pouco como a lógica da batata, mas é o que é. O nosso campeonato, verdade seja dita, tem 18 equipas, mas podia só ter 6 ou 7. Esta época, tirando os três grandes, e depois Braga, Rio Ave, Marítimo e Chaves, o resto é de uma pobreza futebolística impressionante. A única diferença está na filosofia de jogo dos treinadores, que ora preferem meter o autocarro em frente à baliza ou tentar jogar o jogo pelo jogo, correndo até cair pró lado. São jogos chatos que às vezes custam a desatar, mas que mais cedo ou mais tarde acabam por abrir. Foi, por exemplo, o que aconteceu ontem contra o Marítimo. Mas que não aconteceu contra o Moreirense.
Olhando assim de repente para a nossa segunda volta, considero fundamental não perder nenhum ponto com os últimos onze classificados do nosso campeonato. São 33 pontos que tem de ser nossos, dê por onde der. Temos algumas deslocações que se podem complicar, como Belém e Portimão, mas nesses jogos temos de entrar com tudo, não há hipóteses. Depois temos os melhores 7 classificados do nosso campeonato. O Rio Ave, que tivemos muitas dificuldades para ganhar fora, virá jogar a Alvalade. E em casa mandamos nós. Depois temos deslocações a Braga, Chaves e Marítimo. A viagem à Madeira será no fim do campeonato, pelo que não vale a pena pensarmos muito nisso. Já os jogos em Braga e Chaves são fundamentais, pois são campos tradicionalmente difíceis para nós. Fora os jogos com porto e benfica, serão talvez os mais complicados da segunda volta, a par da recepção ao Rio Ave. 
Ganhar a Rio Ave, Braga e Chaves, bem como a todos os outros clubes, é possível? Acho que temos qualidade e confiança para isso, mas não nos podemos esquecer que entre aqueles jogos existirão outros para a Liga Europa. O plantel do Sporting está a ser apetrechado neste inverno precisamente para dar mais opções no plantel ao treinador, de forma a que não tenha de abordar os jogos da segunda volta com o receio com que abordou o jogo contra o Moreirense. É neste aspecto que eu tenho mais confiança para a última metade da prova, pois se o nosso plantel ficar melhor, também os resultados reflectirão essa mudança.
Por fim os jogos grandes. A viagem ao porto, à oitava jornada, poderá ser já decisiva ou não. Se até lá a margem pontual não diminuir, uma vitória do porto deixa-os bem lançados para a conquista do título. Se a vantagem aumentar, nem se fala. Agora, se encurtarmos a vantagem, igualando ou passando o porto por um ou dois pontos (numa perspectiva razoável), o jogo não será decisivo. A recepção ao benfica, na penúltima jornada, terá muito que ver com a forma e as expectativas que cada equipa terá ainda no campeonato, pelo que não vale a pena ainda falar disso. Já a ida do porto à Luz, na recta final do campeonato, poderá ser mais decisiva até que o porto-Sporting. 
Há muito ainda pela frente e as minha esperança está intacta e inabalada. Resta-me apenas esperar e torcer que na segunda volta não hajam mais momentos "Moreirense".
Eu quero o Sporting campeão!

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Empate doce com sabor azedo

Empatar no terreno de um rival directo, quando se vai na frente do campeonato e ainda faltam mais de metade das jornadas para serem jogadas, nunca é um mau resultado.
Está bem que o rival em questão até está num mau momento da época e que uma vitória no seu reduto significaria um duro golpe nas suas aspirações. 
No fim de contas, custa sempre deixar escapar uma vitória nos últimos momentos da partida, mesmo tendo sido um jogo onde acabámos por ser bafejados pela sorte.
Quando o nosso onze inicial foi divulgado, apresentando-se os melhores jogadores do plantel como titulares, fiquei com a sensação de que tínhamos tudo para sairmos do derby vencedores. Creio que é mais ou menos consensual de que a nossa equipa é, neste momento, qualitativamente superior à do benfica. 
O inicio do jogo foi mais ou menos o esperado. O benfica com mais bola esbarrava no nosso meio-campo e defesa, sem conseguir criar mossa. Sempre que tínhamos a bola, era notório o interesse em jogar rápido para os nossos jogadores da frente, tanto Gelson como Acuña ou Bruno Fernandes. Marcamos o nosso golo aos vinte minutos no primeiro remate enquadrado à baliza, mas antes já haviamos criado jogadas rápidas de perigo na área encarnada. Até ao intervalo assistiriamos a um jogo emocionante, como jogadas de golo iminente em ambas as balizas. O nosso meio-campo defensivo parecia tremer ante a vontade de galgar terreno do benfica, mas sempre que recuperávamos as bolas conseguíamos ir lançando jogadas rápidas de contra-ataque que iam dando golo. Ao intervalo, se é certo que podíamos ter sofrido o golo do empate, também é verdade que podíamos ter ido pró descanso com uma margem mais dilatada. Ia valendo a nossa eficácia.
No segundo tempo esperávamos um jogo semelhante, com um maior acerto do nosso meio-campo e o avolumar de jogadas de contra-ataque mortíferas da nossa parte, explorando o espaço que previsivelmente se abriria nas costas da defensiva encarnada. Rui Vitória meteu a carne toda no assador e passou a jogar num futebol directo mas partido, tentando-nos sufocar. Na fase de maior assédio do benfica, nunca fomos capazes de sair a jogar com a bola nos pés em busca do golpe de misericórdia no adversário. Aliás, tirando um ou outro fogacho, de Acuña, Gelson ou Picinni, não fizémos uma única jogada de perigo. É certo que do outro lado Rui Patrício praticamente não defendeu uma bola de jeito, mas não faltaram jogadas de perigo dentro da área. O golo do empate adivinhava-se a qualquer momento e face à apatia da nossa equipa, quase que se esperava uma remontada encarnada.
Já no fim do jogo, numa fase em que parecia já termos tudo controlado, Bataglia teve uma paragem cerebral e interceptou com o braço um remate que muito provavemente Patrício defenderia. Parecia reposta alguma justiça num jogo onde, sobretudo na segunda parte, fizémos muito pouco do que sabemos fazer, deixando-nos embalar numa estrelinha que teima em brilhar-nos nestes jogos.
Esta foi a história do jogo jogado. Perdemos uma oportunidade de "matar" um rival directo, preferindo não perder um jogo que parecia destinado a ser ganho. É certo que o benfica fica mais longe do primeiro lugar, mas continuam a três pontos de nós. Hoje o campeonato podia ser só disputado a dois, mas continua a sê-lo por três. 
Resta-nos o consolo de que, tal como no jogo contra o porto, o nosso rival num dos seus melhores jogos da época, não tenha conseguido vencer um leão enfadonho.
Quanto à arbitragem, não há dúvida que o calcanhar de Acuña está fora do jogo no lance do nosso golo. Quanto aos lances para penalti, esquecendo o alarido produzido pelos comentadores da BTv, parece-me óbvio que só o que foi assinaldo é que era efectivamente falta. Por muito que agora tentarão dizer em contrário.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

A imensidão do Estado Lampiânico

Quando me preparava para entrar em 2018, pensando eu que só voltaria à escrita para fazer o rescaldo do derby, eis que no passado sábado cai uma bomba do tamanho de Portugal.

Ponto prévio:
Obviamente que acredito na presunção de inocência e sou contra condenações precipitadas na praça pública. Por isso escandalizou-me a forma como dias antes o Rio Ave e os seus quatro jogadores foram tratados pela comunicação social. Uma coisa é a opinião de café e de elevador, onde "são todos a mesma coisa" e "é tudo igual, só pensam no dinheiro". A comunicação social tem, acredito eu, um papel mais elevado na discussão de temas melindrosos. Daí que tenha alguma dificuldade em ver comentadores televisivos ou jornalistas a encarnarem o discurso do taxista zangado ou da porteira mal-disposta. Mas o que se passou no sábado seguinte foi surreal, inacreditável. Chegou a ser intimidante.

A bomba:
Ao que parece, estarão a ser investigados indícios de que no jogo Rio Ave-Benfica de 2015/2016, jogadores da equipa da casa tenham sido aliciados para perder o jogo. E que este até nem seria o único jogo a ser investigado, relativo a essa época. Não vou repetir o que já se disse e todos nós sabemos, que nesse campeonato houve jogos mais escandalosos do que o de Vila do Conde. Sem falar, claro, como é que uma equipa banal faz 88 pontos num campeonato, etc. etc. Passemos esse ponto e olhemos apenas para o acto em si de aliciar jogadores adversários para perderem o jogo. A notícia foi comunicada às pinguinhas ao longo da manhã, mas logo foi possível apurar que a mesma era revestida de algum fundamento. Ela não se baseava numa "boca" de algum interveniente desportivo, mas sim na investigação do Feirense-Rio Ave, onde no telemóvel dos jogadores constituídos arguídos teriam sido encontradas SMS comprometedoras. 
Mesmo acreditando na presunção de inocência e dando de barato o empolamento que alguma comunicação social fez deste caso para captar audiências, só alguma virgem cândida acreditará na tese da "cabala" contra o benfica. Existirão indícios que justificam uma investigação da PJ e um inquérito no Ministério Público. Se isso será suficiente para conseguir uma condenação, não sei. Se justificará uma intervenção da justiça desportiva, talvez. Mas nada me preparou para o que se passou depois.

O branquamento. Ou como um país se revira quando se toca no clube do "povo":
As horas seguintes foram um exercício trágico-cómico dos opinadores desportivos que grassam cá pelo burgo. Ribeiro Cristovão, que dias antes condenava o Rio Ave e os jogadores envolvidos num suposto aliciamento por parte de apostadores asiáticos, atribuia as origens do #BenficaGate à inveja dos seus rivais por causa da iminente conquista do penta (ou peta). As televisões iam entrevistando na rua adeptos benfiquistas que, claro está, achavam que era tudo um esquema montado (a cabala) para prejudicar o seu clube. O circo continuou no próprio dia e nos dias seguintes. Os "comentadores" achavam que na origem das suspeitas contra o benfica estava uma campanha de ódio, perpretado por "dirigentes desportivos" incendiários, cujo único objectivo visava a destruição do nosso futebol. As perguntas dos moderadores eram tendenciosas e parciais, focando a questão da "normalidade do erro" no futebol, chegando ao ponto de desenterrar o episódeo de Manaca, com quase 40 anos. Nos poucos painéis que vi debater no próprio dia, em nenhum deles houve coragem para se nomear os tais "dirigentes desportivos" incendiários, mas eram deixadas no ar mensagens subliminares suficientes para lá chegarmos. E ontem parece que lá houve um que tocou no nome "Sporting", lançando a base para um spin que (de certeza) ouviremos nos próximos dias, que tudo isto será uma "cabala" montada pelo Sporting com o fim de incriminar o benfica.
O cómico de assistirmos ao controcionismo mediático da classe acéfala e cobarde que comenta o futebol cá do burgo, deu lugar à tragédia de constatar uma evidência que não sendo novidade para nenhum sportinguista, não deixa no entanto de causar arrepios quando constatada. O benfica é algo que se confunde com o nosso estado e que, em alguns aspectos, até parece que o ultrapassa. O Estado Lampiânico é uma espécie de organização totalitária que vive disso mesmo, de uma hegemonia total e até acima de Portugal. Basta, por exemplo, comparar o inicio da "Operação Marquês", onde o ex-primeiro-ministro José Sócrates era acusado de praticas criminais durante o exercício do seu mandato, com o #BenficaGate. Penso que qualquer pessoa emocionalmente equilibrada concordará que é mais grave e mais importante o caso de José Sócrates, mas isso não impediu que ao longo destes anos se tivesse debatido o mesmo em todos os aspectos, havendo quem defendesse quer a teoria da "cabala" contra Sócrates, quer o mérito da investigação.
Ora, o que nos foi dado a ver nestes últimos dias foi só a parte da "cabala", do ódio contra o benfica, da inveja contra o benfica, dos incendiários contra o benfica, do penalti do Tonel, do falhanço do Bryan Ruiz. Vi um país inteiro (o país mediático, claro) a defender um suspeito, sem sequer alguém ousar em questionar se as suspeitas eram legítimas ou não. E isso arrepia-me, principalmente quando o presidente do benfica faz um claro apelo à violência, que é interpretado por todos como uma "defesa da honra", tal homem traído contra a esposa adúltera. Choca-me ver um país completamente manietado pelo totalitarismo de uma entidade nubelosa chamada Estado Lampiânico. Manietado por cumplicidade, por simpatia, por medo e covardia. A expressão "Quem se mete com o benfica, leva!" nunca fez tanto sentido como hoje.

A desintoxicação ao spin da cartilha:
Mais cedo ou mais tarde, mais subliminar ou mais descaradamente, a cartilha tentará associar Bruno de Carvalho ao escândalo #BenficaGate, como instigador ou denundiante calunioso, utilizando aquela sua velha máxima de que BdC é o responsável de todo o mal que veio ao mundo, desde o Big Bang. É um ataque cliché a que todos os sportinguistas já estão habituados, pelo que não acredito que pegue junto dos adeptos.
Outra tentativa de branqueamento do #BenficaGate, que já circula pelas redes sociais, será a de relativizar os factos, ressuscitando casos como o célebre penalti do Tonel em Alvalade, usando-o como exemplo de falsificação de resultados a nosso favor. Ou mostrar o falhanço de Bryan Ruiz no derby como prova de que, por vezes, podem ser cometidos erros tremendos involuntariamente. Aqui nem vale a pena argumentarmos de que Tonel era um central sofrível ou Bryan Ruiz foi amaldiçoado por um ressalto da bola no nosso relvado de merda. Basta-nos responder que, até à data, não se tem conhecimento de que Tonel ou Bryan Ruiz tivessem mensagens no seu telemóvel para aliciá-los a cometer aquelas falhar. E se essas tais mensagens exisitirem, pois então que se investigue.
Quanto ao facto dos jogadores do Rio Ave, Cássio e Marcelo, até terem sido os melhores em campo, o argumento também é desmontável: se quiséssemos falsear um resultado, se calhar convinha-nos fazer a coisa o mais despercebida possível. E como Bryan Ruiz demonstrou naquela noite de Março de 2016, no futebol é fácil falhar, portanto... E mesmo que os jogadores até tivessem recusado a abordagem que lhes terá sido feita, eu lembro que a tentativa de praticar um crime também é punível.
Quando começarem a ser conhecidos os outros jogos onde existam as mesmas suspeitas sobre o benfica, onde as exibições dos jogadores adversários sejam mais escandalosas do que as de Cássio ou Marcelo, a cartilha terá de abandonar as justificações que tem estado a ser dadas, enveredando antes no argumento de que nada liga o clube aos empresários que supostamente tentaram angariar os jogadores. André Ventura já começou ontem a desbravar esse caminho, tentando colar o Sporting a uma espécie de denuncia caluniosa, ressuscitando  Paulo Pereira Cristóvão na memória de todos. 
A imensidão do Estado Lampiânico, que nos tem sido dado a ver em todo o seu esplendor, tentará por todos os meios e mais alguns, branquear o maior escândalo da história do futebol português. E já é bem perceptível para onde é que as culpas irão ser atiradas.

O resto da presente temporada:
Muito dificilmente a investigação do #BenficaGate terminará até ao final da presente temporada, pelo que qualquer decisão da justiça civil ou desportiva não deverá ser conhecida antes do verão. Portanto, salvo os soundbytes da cartilha ou dos denunciantes do caso, nada de mais palpável será conhecido nos próximos tempos.
E qual será o impacto do #BenficaGate na presente temporada? Aparentemente, para o Sporting será  nenhum. Temos de fazer o nosso campeonato e disputar as nossas taças como até agora tem sido feito: com afinco. Mas bastará isso?
Em 2015/2016, na época que está sob suspeita, vi algo semelhante. Vi inúmeros casos associados ao benfica, desde a forma como digeriram mal a ida do seu ex-treinador para o Sporting, à quantidade de notícias e rumores que plantaram na comunicação social com o objectivo de denegrirem o nosso clube e os seus dirigentes. Na resposta a uma dessas "plantações", que soube-se logo ter sido caluniosa e mal-intencionada, o nosso treinador teve uma resposta mais ríspida dirigida ao seu homólogo do benfica. Ainda hoje muita gente justifica a época anormalmente esplendorosa do benfica com a "união" que o clube viveu em resposta aos ataques do Sporting. Ou seja, pegou-se num episódio provocado por pessoas exteriores ao Sporting, para fabricar uma desculpa (a união da equipa benfiquista) que serviu de branqueamento a exibições anormalmente desastrosas de adversários do benfica, penaltis a favor inventados, penaltis contra perdoados, cacetada impune da estrela Renato Sanches, Samaris, Fejsa, etc.
Por isso, tenho um mau pressentimento quando vejo no mundo encarnado os já habituais incitamentos à "união" da equipa e do clube, para fazer face à "cabala", à "calúnia" ou, segundo Ribeiro Cristóvão, à "inveja dos rivais". E nem é preciso fazerem muito mais do que fizeram até agora: com Tondelas simpáticos, árbitros habilidosos e VARs ceguetas, resta-os rezarem por uma "intervenção divina" semelhante à que foram beneficiados no dragão...