quarta-feira, 28 de março de 2018

Como transformar o chico-esperto da Britalar em vítima de BdC

No próximo fim de semana teremos um dos jogos mais importantes até ao final da temporada. Não que nesta fase possamos dizer que este ou aquele jogo são de importãncia reduzida, não. Até à 34.ª jornada temos de encarar todos os jogos como finais, pois são todos para vencer. Mas o próximo é especial.
Em primeiro lugar, uma vitória em Braga deixa o benfica C praticamente afastado da luta pelo 3.º lugar. Em segundo lugar, sendo o jogo mais perigoso até defrontarmos o benfica em nossa casa, uma vitória deixa-nos o 2.º lugar à nossa mercê. Em vésperas de benfica-porto, os lampiões entrariam em campo no clássico pressionados, pois um mau resultado teria impacto duplo, quer nas aspirações ao título, quer na luta pela segunda posição. Em terceiro lugar, mas não menos importante, uma vitória em Braga dá-nos alguma margem para sonhar. O porto terá uma deslocação a Belém que se pode vir a revelar complicada. Uma vitória em Braga, conjugada por uma perda de pontos do líder, deixaria-nos novamente na luta pelo título, pelo menos até ao desfecho do benfica-porto. É uma equação com muitas variantes, onde até pode entrar a esperança de Peseiro ir sacar uma gracinha na Luz. Façamos o nosso trabalho, que é o de bater o benfica C, e esperemos que a sorte nos sorria...
Enquanto isso, por Alvalade, as coisas vão seguindo o seu ritmo habitual. Bruno de Carvalho patrocinou a abertura de uma loja verde no coração turístico de Lisboa, numa iniciativa que só peca por tardia. O vandalismo que a loja sofreu logo na primeira noite revela o quanto é hipócrita aquela aquela velha máxima de que "em Portugal só existem dois clubes, o benfica e o anti-benfica". Pelo caminho, Bruno arrasou novamente o califa do Estado Lampiânico, que dias antes atirara para o ar uma mão cheia de areia, na esperança que a sua retórica de "vendedor da banha da cobra" afastasse os holofotes mediáticos do toupeiral de Carnide.
O problema de Bruno de Carvalho, que patologicamente parece incurável, é que fica de tal modo entusiasmado quando acerta no cravo, que no meio da euforia manda mais uma martelada na ferrradura. A recente "guerrinha" com o benfica C é um bom exemplo disso. Salvador, tal como um bom moço de recados ou cão fiel ao seu dono, lá se prestou a fazer mais um favor à mão que o afaga, e vai de criar uma telenovela em torno de tranches não pagas, relativas à transferência de Bataglia. O móbil era de tal forma evidente - fazer um frete ao gabinete anti-paródia do EL, criando uma diversão ao #BenficaGate - que inicialmente não terá havido sportinguista que tenha levado a sério a acusação bracarense. A resposta dada uns dias depois, de que afinal o braga tinha uma dívida mais antiga por saldar com o Sporting, era mais do que suficiente para encerrar um assunto sem assunto nenhum. Pagar a tranche ao braga, descontando as dívidas passadas e as futuras que iriam ter com o Sporting, sendo questionável em matéria de relação entre duas entidades adultas e de respeito, também foi uma forma paternalista de encarar a coisa. Lembram aqueles pais, que para ensinar os filhos a não gastar mais do que tem, lhes descontam na mesada aqueles euritos que lhes emprestaram no ano passado. Foi um modo paternal do Sporting dizer ao braga de que "não andamos aqui a dormir" e que as dívidas são para ser pagas a tempo e horas. O comunicado do braga lembra aqueles miúdos lá da rua, que na sexta-feira iam fanfarrões lá para casa porque iam receber "umas massas" para gastar no fim de semana, mas que acabam no café a chorar porque afinal os papás são mauzões e só lhe deram "uns pauzitos". A história era de tal forma evidente que até parecia uma parábola bíblica, daquelas com moral no fim, tipo "paga o que deves e não inventes". No entanto, Bruno de Carvalho achou que a moral da história não era humilhante o suficiente para o chico-esperto da Britalar, e vai de metralhar a personagem com insultos. De repente, o que era um jogo de futebol que nos poderia abrir as portas do mundo dos sonhos, transformou-se numa prova de orgulho ferido para o nosso adversário. Junte-se a isto a folga que a comunicação social está por estes dias a dar ao #benficagate. E temos mais um jogo contra toda a adversidade do mundo. 
O porto, dos velhos tempos do Sistema, tinha a irritante característica de se transfigurar perante adversidades semelhantes. Quando atacados no seu orgulho (lembro-me das campanhas de Santana Lopes ou Dias da Cunha contra o porto), os seus jogadores transformavam-se em feras quando entravam em campo, além de outros expedientes a que recorriam quando só a ferocidade da equipa não chegava. Infelizmente a nossa equipa ainda não atingiu aquele ponto de "orgulho ferido" que caracterizou o porto dos anos 90, nem possui os expedientes alternativos proporcionados pelo Sistema. Daí que o nosso próximo jogo seja duplamente perigoso: primeiro, porque é contra um bom adversário, que gosta de jogar bem contra nós. Depois, porque mais do que nunca irão querer ganhar este jogo. Não vão ser só três pontos em disputa, mas também o orgulho. Espero que os nossos jogadores, quando entrarem em campo no sábado, estejam bem cientes disso.

segunda-feira, 19 de março de 2018

Vitórias à Sporting, números à benfica

Com o plantel na máxima força, sem inclinações de relvados, somos aquilo que viram ontem: uma equipa dinâmica, com qualidade, vontade de vencer e muito segura de si. O adversário era o quinto classificado, uma equipa que apresenta um bom futebol, com jogadores muito interessantes nas diversas posições. E aquilo que parecia complicado, com um jogo de 120 minutos 3 dias antes, com viagem de avião pelo meio, acabou por ser simplificado pela qualidade que demonstrámos em campo. O segundo golo acabou por aparecer demasiado tarde face às oportunidades criadas. Mas como isto é o Sporting, que graça teria estarmos a ganhar por 2 ou 3 ao intervalo?
Jorge Jesus tem razão quando diz que esta equipa merece ser acarinhada pelos adeptos. Não só pelo número recorde de jogos que irão fazer, mas também pela forma como se empenharam para ganhar em situações dramáticas. O jogo contra o Moreirense é o espelho desse dramatismo: uma equipa devastada por um síndrome viral, com a maior parte dos titulares de fora, obrigada a jogar em desvantagem numérica por obra e graça do apitador de serviço, conseguiu mesmo assim vencer o jogo na raça. E quem diz o jogo do Moreirense diz também o jogo de Tondela ou contra o Feirense. É que há uma enorme diferença a jogar cansado, com os melhores de fora, ainda por cima tendo de levar com os critérios enviesados das arbitragens, em oposição a jogar folgado, sabendo que do outro lado está uma equipa condicionada pela inclinação do campo. Os sportinguistas deviam ser os primeiros a perceber isto, pelo que não compreendo certas reacções dos nossos adeptos nos últimos jogos. Adiante.
Os cinco e três pontos que temos de atraso face a porto e benfica, ainda nos permite encarar para a recta final do campeonato com uma ténue esperança. Na próxima jornada teremos mais um jogo decisivo, onde precisaremos novamente do melhor Sporting. A deslocação a Braga será provavelmente o jogo mais difícil que teremos para o campeonato, depois da recepção ao benfica. Os bracarenses tem feito uma boa segunda volta e acalentam a esperança de alcançar o terceiro lugar. A nós resta-nos remeter o Braga para o seu honroso quarto posto, dizendo com isso ao mundo de que o Sporting ainda está vivo e na luta pelo título. Por sua vez o porto terá uma deslocação complicada a Belém, onde o benfica só não perdeu por "paixão". Uma possível perca de pontos dos azuis relançaria o campeonato na sua recta final. Veremos o que a Páscoa nos reserva.
Por último, uma proposta de assunto para irmos pensando e debatendo nestes dias sem campeonato: os números "à benfica". O nosso rival de Carnide continua a ser um case study de como contrariar a estatística. Em 2015/16, mostrou-nos ser possível uma equipa somar quatro derrotas mas só um empate. Junte-se a isso a tremenda dificuldade dos seus jogadores verem cartões (amarelos ou vermelhos), face à facilidade com que os seus adversários os vêem (sábado foi mais do mesmo). A quantidade de jogos que passam sem que lhes marquem um penalti contra. A diferença que foi a sua prestação europeia, com 6 derrotas em 6 jogos, face à sua prestação interna na mesma fase. Por fim, o VAR. Tínhamos todos alguma curiosidade de como seria o impacto das novas tecnologias no nosso campeonato. Ao Sporting, o VAR já lhe anulou golos marcados e sofridos, mandou anular uma decisão de marcação de penalti a favor e inclusivamente errou grosseiramente contra nós. Creio que quase todas as equipas terão passado por situação semelhante, o que estatisticamente é expectável. Menos o benfica. Curiosamente, não me lembro de nenhum golo do benfica anulado pelo VAR, nenhum penalti a seu favor anulado ou jogador expulso por intervenção do VAR. Em contrapartida já viram golos sofridos serem anulados. Há coisas curiosas, não há?  

terça-feira, 13 de março de 2018

Rambo - Episódio 26.º

No final do jogo de Paços de Ferreira, alguém escreveu no twitter que deveria ser considerado inconstitucional deixar desta forma os sportinguistas esperançados quanto ao desfecho do campeonato.
Da mesmo modo que fiquei desiludido com o afastamento prematuro da nossa luta pelo campeonato, considero que esta redução pontual trata-se afinal da reposição de alguma justiça na classificação. Continua a ser muito complicado chegarmos ao topo da Liga, mas ainda podemos sonhar. E como é sonho que comanda a vida...
Ontem voltámos a dar um recital de futebol à Sporting. Entrámos em campo (outra vez) com a equipa remendada, demos os 45 minutos de avanço ao adversário da praxe e no final resolveu Bas Dost. Não faltou a habilidade do homem do apito, desta vez não na forma de uma expulsão inventada mas num penalti forçado. Nem faltou também aquela alergia insuportável de JJ para resolver os jogos a tempo e horas. Marcámos o primeiro golo, a equipa adversária acusou o golpe e poderíamos ter dilatado a vantagem nos minutos seguintes. Depois, incompreensivelmente, congelámos o jogo e deixámos tudo na divina inspiração de Battaglia, que primeiro safou-nos de um golo e depois deu outro a marcar. E, claro, para ser uma verdadeira vitória "à Sporting" não podia faltar a nervoseira final, quando depois do penalti manhoso convertido, se previa o ataque do Chaves ao golo do empate. 
Não me lembro, para o campeonato, da nossa última vitória "normal", onde tivéssemos marcado 2 ou 3 golos até intervalo e passado um final de jogo tranquilo. Ultimamente tem sido sempre com sangue, suor e lágrimas. Os jogos do Sporting parecem aqueles filmes de guerra, onde o herói leva tiros de todo o lado, está quase a morrer 2 ou 3 vezes ao longo do filme, mas no final saca de um estratagema qualquer para originar uma explosão que mata todo o exército inimigo. E o campeonato também tem sido igual, quando pensamos que já fomos arrumados, eis que o herói surge cambaleante no alto da serra do Marão e desata a metralhar tudo à volta. Até quando, não saberemos nós.
Se este fosse um campeonato normal, diria que as três equipas da frente ainda iriam perder mais uns quantos pontos até ao fim. Sendo o Sporting o que está mais atrás, além de ter o pior campeonato dos três, é também o que menos hipóteses tem de acabar na frente. Já percebemos e vimos que a dupla que vai à frente muito dificilmente perderá pontos. O porto perdeu-os na última jornada porque foi vítima de uma conjugação de factores que raramente lhe acontece: às lesões de jogadores influentes juntaram-se castigos disciplinares. É uma conjugação que ocorre quase tantas vezes como a passagem do cometa Halley. Apesar de tudo, o porto ainda tem algumas deslocações complicadas, como Belém, Marítimo e benfica, mas não acredito que perca mais dois jogos. Quanto ao benfica, tirando os dois clássicos e uma recepção ao Guimarães, tem apenas de defrontar equipas do fundo da tabela. Com a aflição dessas equipas pequenas na recta final do campeonato, até poderiamos antever alguma dificuldade do benfica nesses jogos. Mas não no Tugão. Aqui já percebemos que para Tondelas, Setúbais ou Moreirenses, é mais importante não incomodar o DDT do que conquistar-lhes um pontinho. Muito provavelmente o campeonato resolver-se-á no clássico da Luz, onde o vencedor ficará com mão e meia no caneco de campeão nacional.
Quinta-feira mais uma batalha do nosso herói. Com Bas Dost em campo, acho difícil não marcarmos pelo menos um golo na República Checa. E se conseguirmos ir aos quartos, que o sonho europeu nos guie até à final de Lyon.

segunda-feira, 5 de março de 2018

Jorge Jesus: Problema ou solução?

Ainda é cedo para fazermos um balanço da temporada, pois ainda temos objectivos não negligenciáveis para alcançar, mas no que toca ao campeonato podemos já afirmar que foi um fiasco. Até podemos reduzir a actual margem de distância para o primeiro lugar ou acabar em segundo. Mas o que fica na nossa cabeça é que no início de Março estamos fora da discussão pelo título. E nada fazia prever isto quando terminámos a primeira volta lideres do campeonato. 
Esta será a terceira época de Jorge Jesus à frente do Sporting, pelo que será a terceira vez que falha o objectivo principal da equipa. A primeira época atingimos a notável marca de 86 pontos, que foram insuficientes para sermos campeões por diversos motivos, alguns dos quais estão a ser investigados pela PJ. A época seguinte prometia bastante, pois entretanto Portugal foi campeão da Europa com alguns dos nossos jogadores e havia uma clara vontade de vingar a injustiça da época anterior. As coisas não nos correram de feição, pois começámos a perder terreno logo no início do campeonato, além de termos falhado outras metas numa fase ainda precoce das provas. Por esta altura jogávamos apenas para o terceiro lugar, nada mais. Esta época, portanto, muito dificilmente seria igual ou pior do que a anterior. No entanto, nesta fase, o que a está a marcar é o afastamento prematuro da luta pelo título, num inicio de segunda volta tenebroso. Ainda é cedo para decidirmos se JJ é problema ou solução para o Sporting, mas basta uma volta pelas redes sociais para percebermos que é um assunto que já começou a ser discutido pelos sportinguistas.
Antes de mais, convém dizer que não acredito que JJ saia no final (ou até durante) da presente temporada. Nem acredito igualmente que BdC o despeça. JJ já no passado demonstrou que não é pessoa para abandonar o barco, até em situações mais difíceis que a actual. Já Bruno de Carvalho também não acredito que o despeça pois para o fazer terá de pagar uma indemnização choruda. O nosso presidente acaba por ficar refém da ambição de ter querido trazer o melhor treinador para o Sporting. Pessoalmente também prefiro que JJ fique e cumpra o seu contrato até ao fim. Primeiro, porque não acredito que o futebol da nossa equipa se deteriore até ao fim desta época. Segundo, porque tenho boas expectativas para a próxima temporada. Estarei a ser demasiado optimista? 
Quando Jorge Jesus chegou em 2015, pegou numa equipa que estava rotinada há já duas temporadas. Na temporada anterior, com Marco Silva, também ficámos prematuramente afastados da luta pelo título, mas conseguimos conquistar a taça de Portugal no fim. Perdemos Nani e Cedric, mas mantivemos João Mário, William, Adrien, Slimani. Com uma maior intensidade de jogo, atingimos a tal marca dos 86 pontos, que por pouco não chegou para sermos campeões.
Em 2016, apesar das expectativas altas, perdemos jogadores influentes como Slimani e João Mário. Bas Dost entrou bem na equipa mas outras outros jogadores não. Markovic, Elias, André, Castaignos ou Campbell, não acrescentaram valor suficiente ao plantel, o que aliado a uma má forma de Adrien e William no pós-Europeu, resultou numa época sem conquistas.
Para a presente temporada, o Sporting teve de refazer outra vez o plantel, repetindo a renovação que havia falhado no ano anterior. Aqui as coisas pareceram correr melhor, pois Piscinni, Coentrão, Mathieu, Bataglia e Bruno Fernandes revelaram-se melhores do que as contratações de 2016. Estamos melhor em todas as frentes em relação à época passada. E mesmo estando fora da discussão pelo título, na generalidade também estamos melhor face a 2015, onde nesta altura já só lutávamos pelo campeonato. A médio prazo, este plantel dá-me mais conforto, pois acredito que os erros desta temporada poderão ser sanados na próxima.
Atendendo ao que tem sido a política de entradas e saídas do Sporting, não acredito que no final desta época venham a sair muitos jogadores nucleares. Em ano de mundial, algumas dessas vendas estarão também dependentes da forma como a nossa selecção enfrentará a prova, bem como dos minutos que jogarão na selecção. Aqui, muito provavelmente os focos incidirão sobre Rui Patrício, William e Gélson, sendo o "Sir" o mais provável a ser vendido. Não acredito que Bruno Fernandes se mostrará ao mundo na Rússia, pois não é uma primeira opção para Fernando Santos. A saída provável de William poderá juntar-se a de Fábio Coentrão, que regressará a Madrid. 
Podemos assim esperar um Sporting 2018/19 onde Rui Patrício, Piscinni, Mathieu, Coates, Bataglia, Bruno Fernandes, Bas Dost e Rafael Leão continuem no plantel, a que se juntarão um defesa esquerdo (era tão bom renovar o empréstimo com Coentrão...) e um trinco para colmatar a saída de William (Misic será suficiente?). Teremos entretanto Wendel já "europeizado", o regresso de Geraldes e Matheus Pereira. Tudo jogadores que nessa altura já conhecerão bem a "ideia de jogo" de JJ. Mas que conhecerão outra coisa tão ou mais fundamental do que a tal "ideia de jogo": saberão que é tão importante entrar com tudo nos jogos contra Estoril, Tondela, Setúbal, etc., como nos jogos grandes.
Como se viu na passada sexta-feira, o problema do Sporting não é de falta de qualidade do seu plantel. Fizemos um bom jogo no terreno de um rival, sem dois dos nossos melhores jogadores. Mas sem esses mesmos dois jogadores, fizemos um jogo miserável no Estoril. Estou profundamente convicto de que o actual problema do Sporting é sobretudo um problema de motivação. Tirando o jogo de Setúbal, onde jogámos o suficiente para golear, entrámos em campo com Tondela, Moreirense ou Estoril, sem a motivação necessária para esmagarmos adversários que dão tudo em campo contra nós. Na próxima temporada, Mathieu, Piscinni, Bruno Fernandes, Bataglia, etc., já saberão o que terão de fazer quando jogarem contra esse tipo de adversários. 
Jorge Jesus também saberá tão bem como nós qual é a realidade do futebol português. Ele também ouviu falar das malas e de certeza que sente a diferença do que é treinar o Sporting e fazer o mesmo com o benfica. Não acredito por isso que ele não encontre diariamente motivação melhor para ser campeão. É um facto que nesta época, em determinados jogos, ele não conseguiu transmitir essa motivação à equipa. Se não o fez por incapacidade sua ou por incapacidade dos jogadores em interiorizarem o que é o futebol português, desconheço. Mas estou disposto a dar-lhe o benefício da dúvida, até porque é a última oportunidade para o fazer. 

sábado, 3 de março de 2018

Day After

Já não tenho grande paciência para vitórias morais, pois os últimos anos levaram-me a esperar muito mais dos nossos jogos. Mesmo estes jogos grandes encaro-os como perfeitamente acessíveis e já não com aquele pânico que sentia há 5 ou 6 anos atrás.
Apesar de tudo, face às condicionantes de uma equipa privada de dois dos seus melhores jogadores, acabámos por fazer o jogo possível, o que nesta altura significa um jogo competente, vertical, sempre em procura de outro resultado que não aquele com que acabou. Numa semana em que todo o país esperava que fossemos trucidados no Dragão, "sportinguistas" incluídos, acabámos por deixar uma imagem bem diferente da que era anunciada. Mas na prática, salvo alguma moral que a equipa pode retirar deste jogo para embates futuros, o resultado é o mesmo que ficaria se fossemos cilindrados: o adeus à possibilidade de sermos campeões esta época. 
Esperava que no inicio de Março estivéssemos mais por dentro da luta pelo título, à semelhança do que aconteceu em 2015/16, até porque este plantel dava-me garantias para tal. Daí que hoje sinta uma tremenda azia, ao pensar que somaremos mais um ano ao jejum de campeonatos que se arrasta desde 2002. Azia essa que fica mais agravada quando vejo que boa parte do campeonato (sete pontos) foi perdido contra equipas que hoje ocupam os três últimos lugares da tabela. Equipas que deveriam ter sido goleadas por nós sem precisarmos de oferecer malas. Ao fim de mais de duas épocas de JJ à frente do Sporting, vejo que continuamos a falhar onde é proibido. Só para termos uma ideia, ontem jogámos sem os mesmos jogadores que não jogaram no Estoril: Gelson e Bas Dost. Comparemos a exibição num e noutro jogo. É aqui que continuamos a perder os campeonatos.
Mas ao contrário do ano passado, onde por esta altura já só andávamos a cumprir calendário, ainda temos muito para fazer até ao fim da presente época. Temos um segundo lugar para alcançar, uma taça de Portugal para conquistar e uma Liga Europa para fazer uns brilharetes. A luta pelo segundo lugar não se adivinha fácil, pois parece óbvio que benfica (até como certamente o porto) só poderá perder pontos nos clássicos. Isso obrigar-nos-ia a um resto de segunda volta igualmente exemplar, só com vitórias. Os jogos que faltam incluem deslocações complicadas como a Chaves, Braga, Belém ou Portimão. Já para a taça de Portugal temos a vantagem de jogar a 2.ª mão da meia-final no nosso estádio, para revertermos o resultado do Dragão com o apoio do nosso público. Na Liga Europa, se cumprirmos a obrigação de eliminar o Pilzen, abrem-se as portas do sonho. E como JJ disse em tempos, a partir dos quartos-de-final vale a pena investir na competição, pois os clubes apurados são já de um patamar competitivo superior, pelo que as vitórias significarão mais prestígio para quem as alcança.
É certo que a derrota do clássico aguça esta nossa crise de títulos de campeão. É também certo que, confirmando-se este afastamento prematuro da luta pelo título, esta época ficará àquem das expectativas. Mas ainda podemos transformá-la em algo de positivo ou de "menos má". Jorge Jesus tem agora a palavra, mostrando se é capaz de motivar o balneário para o que falta da época, falhado que parece estar o principal objectivo.

sexta-feira, 2 de março de 2018

Começa hoje o resto da nossa época

Chegados aos primeiros dias de Março, eis que começamos hoje a jogar uma série de jogos que serão decisivos para o resto da nossa época.
Não há volta a dar. Se queremos quebrar o jejum de campeonatos, hoje temos de vencer. Infelizmente, cada vez mais parece que uma vitória logo à noite só poderá ser conseguida não com a estrelinha que nos tem acompanhado, mas sim com uma estrelona. Sem Bas Dost e Gelson, perderemos mais de metade do nosso poder de fogo. Resta-nos depositar as esperanças em Acuña e Bruno Fernandes, esperar que Brian Ruiz faça o que não fez há dois anos contra o benfica, ou que Doumbia e Montero façam hoje a exibição da vida deles.
Os lugares comuns do futebol dizem-nos que logo à noite jogarão 11 jogadores contra outros 11. E terão de ser os nossos 11 a fazer a diferença contra aquela que é actualmente a melhor equipa portuguesa. O porto está bem, está moralizado, e joga um futebol que do ponto de vista atacante é avassalador. No entanto, esse mesmo porto já demonstrou que contra equipas do mesmo poderio nem sempre é a máquina de fazer golos que é contra Portimonense ou Estoril. Em Alvalade, com os nossos jogadores cansados, não conseguiram fazer golos. Contra o benfica, a mesma coisa. Em casa foram goleados pelo Liverpool e ganharam-nos para a taça com um pontapé para a frente que acertou na cabeça de um dos seus avançados. Contra equipas que defendem bem, este porto não é tão concretizador. Apesar de nos faltar Picinni na defesa, que na meia-final de Braga secou por completo Brahimi, creio que os elementos que temos atrás dão-nos perfeita confiança de que será muito complicado marcar-nos golos.
Do meio-campo para a frente, espero e desejo uma equipa muito trabalhadora e batalhadora. JJ provavelmente meterá William, Bataglia e Bruno Fernandes no miolo, com os dois primeiros a destruir o jogo adversário e a morder os calcanhares a Sérgio Oliveira, Herrera ou Otávio. Bruno Fernandes terá de fazer um jogo olímpico, seja a apoiar os dois médios defensivos, seja a conduzir a bola até ao ataque nos poucos espaços que certamente nos concederão. E para mim o principal problema do Sporting, logo, será mesmo esse: aproveitar todas as nesgas de espaço na defesa portista para criarmos perigo e marcarmos golos. Isto porque o empate, não sendo mau resultado, também não será bom. Deixa as coisas ainda em aberto para nós, é certo, mas realisticamente, com a segunda volta complicada que temos, não me parece que chegue para sermos campeões.
Uma coisa que estes últimos jogos nos mostraram é que temos uma equipa com carácter, muito carácter. A forma como os jogadores ultrapassaram os últimos obstáculos, lesões, viroses, expulsões, erros grosseiros de arbitragem, até a hostilidade de alguns adeptos nossos (!!!), demonstra isso mesmo. E logo à noite teremos de ser sobretudo uma equipa com muito carácter, ferida no orgulho, com muita raiva para vencer. Para que no fim possam dizer com toda a exuberância que as notícias que davam o Sporting como acabado neste campeonato eram, afinal, exageradas. 
Muito tenho aqui falado sobre tragédias gregas, ironias do destino e justiça poética. Não haverá melhor palco para exibirmos isso tudo do que o jogo desta noite. E quem sabe se sem Gelson e Bas Dost, o derradeiro momento deste jogo não seja uma vitória com um golo solitário de alguém como Brian Ruiz? 
Como canta aquele sportinguista portuense chamado Sérgio Godinho, que hoje seja o primeiro dia do resto de um campeonato que queremos muito, mesmo muito, conquistar.