quarta-feira, 4 de abril de 2018

Não basta sermos bons ou sermos melhores. Temos de ser perfeitos.

O clima que se montou antes da nossa deslocação a Braga deixava adivinhar um jogo muito complicado para nós, onde só sairiamos vencedores se conseguissemos atingir o nosso melhor nível desta época. Apesar do inicio de jogo prometedor, cedo revelámos não ter arcaboiço para aguentar um benfica C mais moralizado e muito determinado em nos vencer. Deixámo-nos enredar nas vicissitudes do jogo, prejudicados por (mais um) equívoco de JJ ao montar a equipa. No final, quando tentávamos sacudir a pressão bracarense e começávamos a tentar jogar junto da área adversária, uma expulsão de Picinni dissipou qualquer tentativa de vencermos o jogo. O golo do benfica C era inevitável, tendo aparecido numa falha de marcação que permitiu, numa bola parada, deixarmos um jogador sozinho em frente à baliza e em jogo.
O resultado de Braga enterra-nos as possibilidades (ainda) realistas de podermos ser campeões, remetendo-a a uma mera hipótese matemática. Deixa-nos igualmente em situação muito difícil para atingir o segundo lugar, pois já não dependemos só de nós. E põe o benfica C a morder-nos os calcanhares, deixando-os com moral para tentarem uma ultrapassagem. A derrota do porto atenuou o desastre de Braga, mas não evita esta terrível constatação de que este campeonato, para nós, já era.
Num ano onde se foi conhecendo a teia que o Estado Lampiânico teceu em todo o futebol português, não deixaria de ser irónico, cómico até, que o benfica conseguisse ser campeão. É como se voltássemos aos anos 90 e à primeira década desta século, quando perante as tentativas de desmascarar as engrenagens do Sistema, o porto respondia também com vitórias internas fulgorantes, incluíndo um penta-campeonato. E da mesma forma que o penta-campeonato dos andrades nos soou a trapaça e marosca, também nos soa este quase-penta dos lampiões.
Há nestes últimos campeonatos uma "curiosidade" que não deixa de ser estranha. Muito provavelmente, este será o quarto campeonato seguido onde o campeão somará mais de 80 pontos. Em termos de percetagem, para compararmos com os campeonatos anteriores a 2014 onde só se disputavam 30 jogos (90 pontos), significa mais de 80% dos pontos em disputa. Desde 2010 que o campeão português consegue somar mais do que 80% da pontuação. Admito que em campeonatos disputados em 30 jogos, seja mais fácil obter uma maior rácio de vitórias, pois as equipas campeãs não sofrem tanto desgaste como com 34 jogos. Para termos uma ideia, entre 1999/2000 (ano em que quebramos o jejum) e 2005/2006 (último ano com 34 jogos, até 2014), apenas em duas épocas um campeão conseguiu somar mais de 80% dos pontos: precisamente o porto de Mourinho. A essa boa performance interna, corresponderam iguais prestações europeias, com a conquista da taça UEFA e a Liga dos Campeões. Ora, desde 2014 que às excelentes performances internas, o campeão não consegue juntar igual performance externa. O benfica conseguiu atingir os quartos-de-final em 2016, mas foi uma excepção. Em 2018 pode-se dar o fenómeno dos quatro primeiros classificados ultrapassarem a meta dos 80 pontos. Tirando o Sporting, que até agora conseguiu atingir os quartos-de-final da Liga Europa, os restantes três clubes quedaram-se com participações paupérrimas nas competições europeias. E esta tem sido a regra nos últimos anos.
Ontem li num jornal que Bruno Varela poderá ser o melhor guarda-redes da Liga 2017/18. Arrisca-se a juntar-se a um lote de jogadores como Eliseu, André Almeida, Samaris, Pizzi, Jardel, Lisandro Lopez, Sílvio, Renato Sanches, etc. Tudo jogadores de "qualidade" que tiveram participação assídua nos últimos campeonatos conquistados com oitenta e tal porcento de pontos, mas que depois, por exemplo, não tem lugar na selecção nacional dos seus países.
Voltando à nossa derrota de Braga, por muito que nos tenha custado, temos de admitir que não é fora do normal perder pontos no terreno do quarto classificado. Como também não é fora do normal tropeçar em casa de um dos últimos classificados. Há dias maus, jogos que correm mal e equipas más a quem naquele dia tudo corre bem. Só uma super-equipa consegue superar isso. Em 2010/11, o porto de Vilas-Boas venceu 27 dos 30 jogos do campeonato. E venceu a Liga Europa. O estranho é ter sempre dias bons e o adversário dias maus. Ou o árbitro ou o VAR terem sempre dias bons para aquela equipa. Não é normal é ganhar ao quarto classificado 9 das últimas 10 partidas. Ou acabar campeonatos com quatro derrotas e só um empate.
O Sporting teve esta época perdas de pontos inadmissíveis, só contra os últimos classificados foram 7 pontos. Há dois anos perdemos em casa do União da Madeira, que viria a descer de divisão. É bom que o sportinguistas estejam mais exigentes com a sua equipa, mas neste momento já estamos a exigir mais de 83, 84 ou 85 pontos por época à nossa equipa. Como se num campeonato português, com 34 jogos, fosse normal ganhar 27 ou 28 partidas, fora as restantes competições. E veremos se chega, pois tenho para mim que, qualquer dia, o campeão atingirá os 90 pontos com facilidade. Esta é a dura realidade do nosso clube. Não basta sermos bons ou sermos melhores. Temos de ser perfeitos.

1 comentário:

  1. Eu penso que o facto de estarmos mais fortes, obriga os adversarios a conseguirem mais pontos, e talvez por aí vejamos isso refletido nos seus relatorios e contas em mais gastos de pessoal, obriga a terem umas Estruturas mais eficazes, pena que nao se traduza nas prestações europeias, antes pelo contrario, seria de esperar que a excelencia a nivel interno fosse acompanada por excelencia nas competiçoes externas. Por outro lado, esta nossa capacidade competitiva, especialmente com a chegada de jorge jesus e ao obrigar adversarios a fazerem tanto ponto para serem campeões poe a nu fim de semana sim, e fim de semana também a realidade do futebol português. Reinado azul, reinado vermelho... Reinado verde? Nao se pode esperar ganhar um jogo no qual não participamos.

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